Não gostava de se ver no espelho depois de tirar toda a maquiagem.
Sabia não ser bonita, mas conseguia efeitos mágicos quando maquiada. Odiou-se por tudo. Ele a deixara. Culpava-se por não ser bonita, não conseguir prendê-lo, não ser interessante… Mas o amava e achava que ele jamais a deixaria.
Ele brincava com ela. Porque tinha certeza que ela estava sempre disponível, e ele zombava dessa paixão intensa, ia e voltava, não a respeitava.
Já sentia saudade dele, de suas mãos, do conforto de seu peito, de seus braços… mas ele dissera que dessa vez era para sempre. Ele não voltaria mais, estava firme em outra relação e amava outra mulher.
Conseguiu manter sua dignidade e não chorou na frente dele nem implorou para que ficasse. Talvez na aflição do momento não tenha entendido direito o que ele dizia. Agora, sozinha, mastigava mentalmente cada palavra. De certa forma sentia alívio. Nunca sabia se estavam ou não juntos, porque ele era inconstante. Mas cada vez que ele voltava ela se sentia a mais feliz das criaturas. Mesmo sabendo que logo ele sumiria de novo. Por esse prisma, era realmente melhor saber onde pisava, mesmo que isso custasse a separação.
Começou a chorar.
Entendeu, então, que era apenas um barco abandonado num cais…
(Imagem: foto de Carlos Eduardo Ferreira)