
Amanhã, domingo, 09.08, será comemorado o Dia dos Pais.
Nada tenho nem terei a comemorar.
A não ser que seja também o Dia da Saudade.
Há pouco mais de um ano vi meu amado pai partir para a casa do Senhor.
Um homem amoroso, sério, íntegro, inabalável, trabalhador, católico, excelente marido, pai maravilhoso.
E faz falta, tanta falta.
Por isso, hoje, minha homenagem e toda a minha saudade a meu pai.
“Pai, há dezessete meses o senhor nos deixou. No dia mais triste de toda a minha vida. Porque eu não estava preparada para me tornar órfã. Sabíamos que sua ida era iminente, mas ainda o tínhamos aqui. Com seu carinho, sua presença.
O senhor sempre foi nossa força, nosso incentivador, o centro de nossa família. E, de repente, não está mais aqui.
Seu lugar vazio na mesa da casa de nossa mãe dói. Muito.
Chegar lá e não ter o senhor para me receber é de uma tristeza indescritível.
Onde está seu sorriso acolhedor? Onde estão seus lindos olhos amorosos? Por que tínhamos de nos separar assim?
Tantas lembranças, tantas, que não cabem em um só coração.
Meu lugar na mesa era a sua esquerda. E o senhor sempre teve um jeito todo próprio de manter a mão esquerda sobre a mesa. E eu, muitas vezes, deixava meu talher e pegava na sua mão. O senhor abaixava os olhos, olhava fixamente nossas mãos unidas. Depois olhava para mim e sorria.
Ah, pai, o que eu não daria para ter novamente seu sorriso.
O senhor sempre sorria: sorria de alegria, sorria de galhofa, quando fazia suas brincadeiras, e seus olhos sorriam junto. Tenho tanta saudade de seu olhar, pai…
Suas rimas, que podiam até irritar a mamãe, mas divertiam os filhos e netos – especialmente a Carolina – “espera aí, vovô, fala de novo que vou escrever…”… Suas paródias… “… a tal da angélica, moça…” … “…un automobile, naquela esquina…”…
Sua voz, pai, explicando seu ponto de vista, sempre ponderado, nos dando um norte, sendo um farol para nosso pensamento, ainda ecoa dentro de mim.
As histórias de sua infância, da onça, dos tiros, as lembranças de meu avô, (primeiro pai que perdi)… Invernadinha, Negro Dionísio, Tio Ary saltando de guarda-chuva, Romeu montando no burro… tantas histórias, tantas risadas. Ninguém nos conta mais histórias, pai. Ninguém mais conhece o Guilherme J. Kuhll…
Lembra-se da estrada para Morro Agudo? Quantas vezes encravamos para aqueles lados em dias de chuva. Hoje nem se sabe mais o que é encravar. O que é pneu lameiro. O que são correntes… E o senhor nos tirava de todos os embaraços.
E quando o senhor perdeu a paciência com a tal da Odila ou Otília, não me lembro mais do nome, só da feia cara da funcionária de mau humor, na faculdade Toledo de ensino de Presidente Prudente e me mandou de volta para terminar a faculdade em Ribeirão Preto. Sofri, pai, porque eu não queria morar em pensão, não queria morar em outra cidade. Mas fui. E assim que peguei meu canudo vazio das mãos do Dr. Pessini, voltei para casa.
Estou aqui, pai, nesse final de dia, vendo o mar que o senhor tanto amava e nos ensinou a amar também, e tomando meu whisky “regulamentar” como o senhor dizia. E me lembrando de quantos whiskies tomamos juntos – foi o senhor quem me ensinou a gostar do single escocês. E tantas outras coisas na vida que o senhor me ensinou. Só se esqueceu de me ensinar como continuar sozinha, sem sua valiosa opinião, seu apoio incondicional e seu amor de pai.
Não vou comemorar, pelo segundo ano seguido, o dia dos pais. Porque nada tenho a comemorar – só a saudade que tenho do senhor, só a falta que eu sinto de um abraço de pai, que nunca mais terei.
Sei que não serei merecedora de ir a seu encontro na eternidade, mas queria muito, pai, pelo menos uma vez, de relance que seja, vê-lo e abraçá-lo. Mesmo que fosse por uma única vez.
Saudade, meu pai. Muita saudade, e tristeza nesse dia dos pais, e meu eterno amor de filha.”
(obs. – na foto acima, meu pai, Carlos, com a bisneta Helena)