La mer / Qu’on voit danser le long des golfes clairs
A des reflets d’argent / La mer
Des reflets changeants / Sous la pluie
La mer / Les a bercés
Le long des golfes clairs / Et d’une chanson d’amour
La mer / A bercé mon cœur pour la vie
(Charles Trenet)

Era um barco. Um simples e vulnerável barco, cortando as águas em busca de seu porto.
Singrava as águas mansamente, sem pressa, sem querer chegar depressa. Apenas queria chegar.
As águas, tépidas e amigas, o balançavam suavemente, brincando de resistir com sua marola.
O céu a tudo assistia. Tentava clarear o máximo de tempo possível, dourando as águas ao amanhecer, e as prateando antes de jogar sobre elas o marinho noturno.
E o barco, de dia singrava, de noite adormecia. Ao sabor das águas, confiante e sereno. Não receava tempestade, não temia o vento. Ele se bastava, não sentia solidão nem precisava de outro barco a lhe fazer companhia. Esperava as primeiras estrelas de cada anoitecer para conferir o rumo que o sol lhe dava. E, se a lua estivesse bem-humorada, logo surgia rastreando de prata toda a superfície visível.
Tão sereno, tão valente, o pobre barco confiava em seu poder e não temia seu destino.
Até o dia em outro barco, de repente, vier a cruzar sua travessia e desviar sua atenção. É a própria tragédia anunciada. O pobre barco não terá mais paz, buscando encontrar seu igual, e se sentirá só nessa imensidão.
Sem paz, não poderá mais enfrentar ventos e procelas. E conhecerá o sofrimento. A ansiedade de esperar, de querer, de desejar.
E, de repente, soçobrará.
Meu coração, esse mar. Minha paixão, esse barco, que naufragou quando buscou outro barco.
(Imagem: Banco de imagens Google)