Como se eu fosse o barco no meio do mar
Que navega em círculos e mais círculos
Vendo as luzes do cais ali tão perto
Mas não pode dele se aproximar
Cruzei os mares e ancorei em outros portos
Vi outras paisagens e me perdi nas ondas
Fui levada pelo vento e vencida pelo cansaço
Tantos perigos, tantos dragões enfrentei
Como se fosse um barco ao sabor do mar
Embalei minhas noites nas calmas ondas
Atravessei dias de fortes tempestades
Vi em mim o sol nascer e também o por-do-sol
O mar calmo era sempre o mais perigoso
Os ventos, as rochas, os naufrágios
Tudo era sobressalto, era medo, era difícil
Mas a marola me acalmava e embalava
Olho agora esse cais a minha espera
Vejo que existe, é sólido e está aí
Sei que não posso me aproximar, mas tento:
Eu sonho, eu quero, eu preciso atracar
O cansaço de tantas travessias vividas
De tantas decepções sofridas e
Tantos amores já mortos ou perdidos
Mostra que você é meu cais, é meu porto
Estou presa por grossos fios invisíveis a
Um barco à deriva, sem remo e sem leme
E um vento indizível me impede de ir
Sofro sozinha aqui, entre as ondas e o vento
Quantas batalhas enfrentei sem ganhar
Quantas derrotas suportei nesses mares
Mas consegui, de algum jeito, sobreviver
E agora avisto meu cais, meu velho porto
À espera de um momento mais acertado
Em que eu possa finalmente me aproximar
Levar meu barco até seu cais tão sonhado
Jogar minhas cordas e em ti descansar