Nessa hora morta entre o final da tarde e o anoitecer, o dia já se foi, mas a noite ainda não chegou. Hora de saudade doer, de ansiedade surgir, de fazer um balanço do dia – e sempre o resultado é negativo.
Dizem: “anoiteceu, acabou o dia, o tempo passa rápido…”. Não, isso não é verdade.
Nós passamos e o tempo fica, ainda que os homens acreditem que o tempo é que passa. Não, o tempo fica.
Todos os dias amanhece, entardece e anoitece. Igualmente.
Não há dia nem noite envelhecidos, nem de cabelos brancos, nem alquebrados.
Podem ser chuvosos ou luminosos. Nublados ou ensolarados. Mas com vida. Sempre. O tempo não se cansa. Não se desgasta. Apenas existe.
Enquanto a humanidade envelhece, apodrece, se torna incômoda.
Os homens passam, as gerações se findam, ninguém mais se lembra de quem estava aqui há cinquenta anos atrás.
Mas todos sabem como foi o dia de hoje há cem anos atrás: amanheceu, entardeceu e anoiteceu. Com ou sem sol. Com ou sem lua. Mas estava aí, exatamente como o dia de hoje.
O tempo não é cruel. Cruel é a vida, que nos açoita continuamente. Cruéis são os sonhos, que nos iludem e nos decepcionam porque não se realizam.
Cruel é apaixonar-se e ficar sofrendo em solidão aguda.
Cruel é a fragilidade do corpo humano.
O tempo, ah, o tempo é indiferente às misérias dos homens. Apenas se limita a assistir a batalha diária dessas criaturas insignificantes diante da majestosidade da eternidade.