Um barco à deriva

Como seguir o vento, se as adriças já não içam as velas?

A calmaria impede navegar, não há mais movimento

O leme, inútil agora, tenta indicar a direção a seguir

Mas o velho barco não consegue seguir adiante

Está à deriva, tristonho, já não se arrisca nas ondas

Nem luta com o mar quando há tormentas e ventos

Pássaros ligeiros do alto espreitam a imobilidade

Tal como nuvens brancas, esparramadas pelo céu azul

E o mar, todo o mar, rodeando e embalando

O casco que balança ao sabor das marolas

Não é possível seguir, mas não é possível ficar

Por que parou, barco ligeiro e habilidoso?

Perdeu a vontade de navegar, a necessidade de chegar,

Ou já não há porto a sua espera? pergunto ao barco.

Comparo agora esse velho barco a meu coração

Que se recolhe num ponto qualquer, perdido sem

Ter razão para seguir, já não luta nem se arrisca

Que também perdeu seu porto onde ancorar

Porque as adriças do abandono travaram o sentimento

Resta, então, a velha âncora da paixão que já não há,

Mortas as velas do encanto que impulsionam e lhe dão sentido.

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