
Continuando a falar de amor, e só de amor, por três dias, hoje postarei um texto e dois poemas:
Vacina de ano novo
Muitos me desejaram paz e amor em 75.
Mas havendo amor, haverá paz?
Amor é o contrário radioso dela.
É inquietação, agitação, vontade de absorver o objeto amado, temor de perdê-lo, sentimento de não merecê-lo, ânsia de dominá-lo, masoquismo de ser dominado por ele, dor de não o haver conhecido antes, dor de não ocupar seu pensamento 24 horas por dia, e mais dias a pedir ao dia para ocupá-lo, brasa de imaginá-lo menos preso a mim do que eu a ele, desespero de o não guardar no bolso, junto ao coração, ou fisicamente dentro deste, como sangue a circular eternamente e eternamente o mesmo.
Amor é isso e mais alguma triste coisa.
E a tristeza incurável do tempo não passa fora de nós, passa é dentro e na pele marcada da gente, lembrando que eternidade é ilusão de minutos e o ato de amor deste momento já ficou mergulhado em ter sido.
Amor é paz?
(Carlos Drummond de Andrade)
E
Amo-te quanto em largo, alto e profundo
Minh’alma alcança quando, transportada,
sente, alongando os olhos deste mundo,
os fins do ser, a graça entresonhada.
Amo-te a cada dia, hora e segundo
A luz do sol, na noite sossegada
e é tão pura a paixão de que me inundo
Quanto o pudor dos que não pedem nada.
Amo-te com a dor, das velhas penas
com sorrisos, com lágrimas de prece,
e a fé de minha infância, ingênua e forte.
Amo-te até nas coisas mais pequenas,
por toda vida, e assim Deus o quiser
Ainda mais te amarei depois da morte…
E, ainda,
Como eu te amo
Eu te amo
sem orgulho
sem esperança
Como o mar ama a montanha
sem jamais a alcançar
e, por suas ondas, incessantemente,
tenta chegar a seus pés
Eu te amo
Com desvario
Com insanidade
Como a lua ama o sol
Sem jamais encontrá-lo
E sem temer o abraço fatal
Que os fundiria irremediavelmente
Eu te amo
Sem vaidade
Sem egoísmo
Com um amor que não tem brio
que sufoca a dignidade
e se basta a si mesmo
Eu te amo
Com loucura
Com paixão
Nesse doce devaneio
Que é apenas insanidade
Esse constante delírio
De inquieta alucinação
(Maria Alice Ferreira da Rosa)