De todas as questões filosóficas já postas, a mais intrigante e menos respondida é aquela que indaga qual o sentido da vida.
Não pretendo discorrer aqui sobre teses filosóficas, sobre Platão nem Aristóteles. Mas volta e meia me pego meditando sobre isso.
Qual o sentido da vida? Por e para que vivemos? Entre nascer e morrer, qual nossa missão? Ou nascemos apenas para esperar a morte?
Tudo que pensamos ter, não nos pertence.
Nem bens, nem sentimentos, muito menos pessoas.
Bens – aí compreendidos imóveis, dinheiro, joias, tudo de valor econômico – por mais que acreditemos ser donos, são totalmente passageiros. Hoje os temos, amanhã os perdemos. Tudo o que vem, vai. Nascemos absolutamente sem nada e quando morrermos nada levaremos. E o que em certo momento está em nosso poder, troca de mãos com incrível facilidade.
Sentimentos, então, são ainda mais voláteis.
A amizade, o amor, a paixão, a confiança, a lealdade… nada nos pertence. Não os temos nem os podemos dar. Quando muito, prometemos e tentamos cumprir a promessa. Mas não somos proprietários de nenhum desses sentimentos. Como também dos opostos, ódio, nojo, desprezo, indiferença…
E as pessoas? Ah, as pessoas – tal como nós – são volúveis, muito volúveis. Proferem palavras levianas, por vezes ferinas, e nos deixam tal ou pior do que da forma que nos encontraram: solitários, carentes e sofredores.
Apenas dispomos de tudo isso – bens, sentimentos e pessoas – durante alguns períodos da vida. Então nada disso – ter, sentir, conviver – integra o sentido de viver.
É preciso buscar mais fundo, é mais abstrato que tudo isso.
Quando estamos motivados, por um sentimento de animação, seja por um projeto pessoal, uma atividade nova, uma paixão florescendo, não pensamos muito na vida, porque o importante é o instante presente, desfrutar do prazer momentâneo.
De vez em quando, entretanto, perdemos o fio desse sentimento, e então nos vemos desmotivados e começamos a meditar sobre o que estamos fazendo na vida, da vida e com a vida. E quase sempre a resposta não nos agrada.
Talvez porque seja recorrente pensar que o sentido da vida é ser feliz.
Pronto. Respondida a pergunta. Resolvida a questão. O sentido da vida é apenas ser feliz.
Ficou mais fácil?
Não, complicou.
Porque agora surge a segunda maior questão: O que é ser feliz?
Em que consiste a felicidade?
Há vidas felizes?
O jardim do vizinho é mais bonito, mais florido, a grama mais verde do que o nosso. Isso visto de longe e do alto de nossa janela. Porque nunca adentramos no jardim do vizinho para verificar se é realmente assim ou apenas aparenta ser assim.
E a felicidade dos outros também é apenas vista de fora. A ninguém é dado penetrar na alma alheia e ver sua cor, quantas cicatrizes ali existem, o quanto ela já sangrou.
Casais felizes? Ou bons fingidores?
Vidas felizes? Ou com alguns momentos felizes?
Não sei. Não posso dizer pelos outros, só tenho como saber de mim.
Acredito que quem chegou mais perto de definir a felicidade foi o poeta Vicente de Carvalho: “… Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos,
Toda arreada de dourados pomos,
Existe, sim; mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.”
Atire a primeira flor quem é real, intensa e completamente feliz.
Conclui-se que ser feliz não é nem pode ser o sentido da vida. Buscar a felicidade plena é o mesmo que procurar o Santo Graal.
Não, não é ser feliz…
Voltamos ao começo – qual o sentido da vida?
E surge nova questão: por que buscar o sentido da vida? E se a vida simplesmente não tiver sentido?
Talvez a vida não seja para ser esquadrinhada, esmiuçada. Talvez a vida seja apenas para ser vivida, sem pensar muito.
Para não se chegar à conclusão mais óbvia: a vida é o período entre o nascimento e a morte.
Viver é nascer e esperar morrer.
Nada mais.