A crônica nossa de cada dia

Hoje enfrento dois desafios.
Pela segunda vez eu me propus – auto desafio – postar por cem dias seguidos no blog. Por óbvio, alguns dias é impossível ter um tempo hábil para escrever uma crônica, ou uma poesia, e, apenas replico um texto ou poesia de outro autor. Outras vezes, ao ler ou reler algo que me emociona, compartilho aqui com meus leitores, merecedores de também ler esse algo.
Mas quem escreve sabe que geralmente os cronistas se propõem a apresentar crônicas semanais e até quinzenais.
Então meu desafio foi escrever diariamente. Cem dias seguidos. Chova ou faça sol, mesmo porque escrevo aqui dentro de casa e as condições meteorológicas não influenciam nesse mister.
E, dessa proposta, decorre o segundo desafio, que já não depende de mim para aparecer: o terrível cursor piscando na tela imaculada. Que corresponde ao antigo desespero da folha em branco olhando desafiadoramente para o escritor.
Muitas vezes fazemos uma crônica exatamente da falta de assunto ou de imaginação para escrevê-la.
Algumas crônicas tiramos de nossas vidas. A maioria de notícias de jornais ou acontecimentos notórios.
Tudo é válido quando se trata de escrever crônicas, a maneira mais direta de nos comunicarmos com os leitores. Um texto, ágil, leve, curto, saboroso ou lacrimejante, mas sempre aprazível.
O cotidiano é a grande fonte do surgimento das crônicas.
Recebi hoje um minilivro – lindo, charmoso, escrito por meu amigo Walter Duarte, onde ele expõe suas frases. O título: “Cotidiano”. E, em suas delicadas páginas os sensíveis pensamentos que nos fazem meditar. “Um cego não sabe se seu guia é outro cego” e “Enquanto você não viver o luto, você não conseguirá viver” e, dentre mais de uma centena, “Se eu tiver que ficar muito tempo dentro de casa, acabarei ficando fora da casinha”. Vejo, com grande prazer, que essas reflexões serão fonte de muitas crônicas futuras.
E me lembro de Jacques Prévert, o poeta francês que escreveu uma poesia sobre os escargots que acompanham o enterro de uma folha morta.
Ou Paul Géraldy, que do ato de se apagar um abat-jour, escreve uma sensual poesia à amada.
São tantos os exemplos, tantas ideias perpetuadas pela palavra escrita, inspiradas em gestos e coisas tão simples, que é forçoso concluir que da simplicidade surgem os tesouros.
E no dia-a-dia, na rotina ou sua ausência, nos fatos inesperados que vêm para transtornar nossa jornada, nossos planos, encontramos sempre a inspiração para escrever. Porque nada frutifica mais que o viver. Eterna inspiração.
Desta forma, escrevendo sobre o nada, chego hoje no 65º dia de postagens sucessivas, dos 100 a que me desafiei. Só tenho a agradecer a atenção e a paciência dos leitores que aqui me prestigiam, com leitura, curtidas e comentários…
Rumo aos cem dias…

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