Amar.
A grande – e talvez mais nobre – finalidade da vida.
Amar incondicional e apaixonadamente.
Amar é tanto, amar é tudo.
Mas é complicado.
Quem ama pede tão pouco para a vida. Mas exige tanto do ser amado…
Diz que basta um olhar, um sorriso, um abraço e um beijo apaixonado. Adormecer e despertar junto do outro. Companheirismo, segurança. Nada mais.
Imagina, sonha, idealiza uma pessoa merecedora de tanto sentimento.
E espera. E desespera.
Um dia brilha uma luz diferente quando seus olhos encontram outros olhos. Um sorriso. Um gesto de acolhimento.
E ali começa um grande amor.
Então todos os conceitos de amor vão se mudando quase imperceptivelmente, e assim esse amor vai matando, aos poucos, o próprio amor, que desencadeia uma autofagia incontrolável.
Corta o cabelo. Não corta o cabelo. Faça ginástica. Não faça ginástica. Põe bermuda. Não põe bermuda. Vamos sair um pouco. Não vamos sair nem um pouco.
E de pequenas contradições e mínimas exigências surge o distanciamento. Cuja especialidade é matar o amor.
Alguns, não contentes de transtornar o outro durante o relacionamento, passam a persegui-lo depois da separação sem trégua, sem dó nem piedade.
E acha que essa mórbida obsessão é decorrente do amor, porque não entende que na verdade é doentio.
Ah, se nós pudéssemos amar de verdade. Amar incondicionalmente, aceitando o outro exatamente como ele é. Amar tanto em vida e morrer junto. Amar depois da morte. Amar para sempre o que partiu e este amar para toda a eternidade o que ficou.
Realizar, na vida real, aquele amor tão sonhado, tão esperado. Se nos fosse possível impedir que a rotina e os problemas viessem para aniquilar a ternura de uma paixão arrebatadora…
Amar, de verdade e para sempre, como se fôssemos os dois cisnes, do soneto de Julio Salusse…
…
Um dia um cisne morrerá, por certo:
Quando chegar esse momento incerto,
No lago, onde talvez a água se tisne,
Que o cisne vivo, cheio de saudade,
Nunca mais cante, nem sozinho nade,
Nem nade nunca ao lado de outro cisne!