Hoje se completam cem anos de seu nascimento. Ela nos deixou foi em 1977. Mas nunca partiu, porque é imortal. Sua arte é eterna.
Amar os outros é a única salvação individual que conheço:
Ninguém estará perdido se der amor
E às vezes receber amor em troca.
Para escrever o aprendizado
É a própria vida se vivendo em nós
E ao redor de nós.
Amar eu posso
Até a hora de morrer.
Amar não acaba.
Na hora de morrer eu queria ter
Uma pessoa amada por mim ao meu lado
Para segurar a mão.
(Clarice Lispector. As palavras. Rio de Janeiro: Rocco, 2013, p. 257)
E, ainda:
Uma prece…
Clarice Lispector
“… alivia a minha alma, faze com que eu sinta que Tua mão está dada à minha, faze com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na eternidade, faze com que eu sinta que amar é não morrer, que a entrega de si mesmo não significa a morte, faze com que eu sinta uma alegria modesta e diária, faze com que eu não Te indague demais, porque a resposta seria tão misteriosa quanto a pergunta, faze com que me lembre de que também não há explicação porque um filho quer o beijo de sua mãe e no entanto ele quer e no entanto o beijo é perfeito, faze com que eu receba o mundo sem receio, pois para esse mundo incompreensível eu fui criada e eu mesma também incompreensível, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e o nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la, abençoa-me para que eu viva com alegria o pão que eu como, o sono que durmo, faze com que eu tenha caridade por mim mesma pois senão não poderei sentir que Deus me amou, faze com que eu perca o pudor de desejar que na hora de minha morte haja uma mão humana amada para apertar a minha, amém.
[Clarice Lispector em “Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres”, Editora Rocco, página 56]