Ah, quem me dera ir-me
Contigo agora
Para um horizonte firme, comum
(comum, embora...)
Ah, que me dera ir-me
Ah, quem me dera amar-te
Sem mais ciúmes
De alguém em algum lugar
Que nem presumes
Ah, quem me dera amar-te!
Ah, quem me dera ver-te
Sempre a meu lado
Sem precisar dizer-te
Jamais cuidado....
Ah, quem me dera ver-te!
Ah, quem me dera ter-te
Como um lugar
Plantado num chão verde
Para eu morar-te
Morar-te até morrer-te...
Mês: janeiro 2021
Hoje é dia da saudade…
Hoje, 30 de janeiro, Dia da Saudade. Saudade, minha essência, razão de minha existência. Vou replicar um texto antigo sobre saudade. Quantos textos escrevi por saudade… Há muitos. Escritos e por escrever. Porque a saudade é uma companheira fiel – chega por último, depois que o amor, a paixão, a alegria, todos já se foram. Mas nunca mais irá embora: ela chega para ficar…
Saudade
«É uma mania que a alma tem
De ouvir o que não é dito.
De sentir o que não se toca,
de ver o que não pode ser visto.
saudade,
é um pedacinho da gente,
Que alguém sem pedir permissão,
Leva para bem longe.»
(Marcelo Vico)
Quantas vezes eu já escrevi sobre saudade.
E quantas mais sobre saudade eu li…
Saudade, essa presença incômoda de uma ausência que não nos abandona.
Esse sentimento de gosto amargo que adoça a vida com doces lembranças.
Essa presença invisível que nos acompanha dia-a-dia, hora-a-hora.
Esse fio mágico que não conhece distâncias e nos mantêm unidos a quem se foi.
Ah, saudade, eu peço, me deixe em paz. Procure outra alma para fazer seu ninho.
Quero viver sem pensar, sem lembrar, quero viver sem ter saudade.
Mas, imagino, sem saudade, a vida seria um deserto onde somente se avança
Onde não há um velho porto à nossa espera para voltarmos
As portas se trancam à nossa passagem e impedem o regresso
Porque sentir saudade é voltar um pouco e encontrar quem se foi
É trazer de volta sensações, cheiros, toques, abraços que se foram
Viver sem saudade é viver sem lembranças doces
É trilhar o atalho até à morte sem se ter vontade de ficar
Então eu peço: Saudade, fique! Não me deixe nunca!
Dia de poesia – Renata Pallottini – Noite afora
A quem devo dizer que em tua carne
se sobreleva o tempo e o duradouro,
mancha de óleo no azul, alaga e intensifica
o contratempo a que chamei amor?
A quem devo dizer dos meus perigos
quando, o corcel furioso olhei ao longe
e não vi mais limites que o oceano
nem mais convites que o das ondas frias?
Como antepor o corte nas montanhas
– Liberdade – ao dever que a si mesma impõe a terra
de estender-se conforme o espaço havido?
Malícia do destino, ardil composto outrora...
Arde a grama da noite em que te vais embora,
e essa chama caminha, essa chama, essas vinhas,
essas uvas, cortadas noite afora.
Poesia da casa – No mar

Acordo na madrugada,
quando o mar
aos gritos, chama por mim.
Ele sabe que um dia eu irei.
Entrarei em suas águas
desmanchando-me nas espumas
e levada por suas ondas,
eu o seguirei. Para sempre.
A paixão então explodirá.
Embriagados e loucos,
tal como amálgama,
para sempre, eternamente,
estaremos juntos.
Não retornarei.
Poesia da casa – Ao amor desconhecido
Você, amor que virá para mim, estará na minha vida,
Como a chuva inesperada que transforma a paisagem
Seja bem-vindo desde já, sua chegada me alegra
Chegue logo, o mais cedo que você puder
Traga consigo a beleza do infinito azul do céu
O mistério dos perigos do profundo azul do mar
Todas as nuances do verde da natureza
O perfume de cada flor que surge nos campos
A transparência das águas que lavam a Terra
E a ternura que existe em cada noite de amor
Espero ansiosa sua chegada na minha vida
Trazendo a luz e o encanto para minha caminhada
Traga todos os sorrisos e todos os abraços
Tudo o que a vida me tirou e está me devendo
Porque você, meu amor, será minha redenção.
Texto de Rubem Alves

Somos assim. Sonhamos o voo, mas tememos as alturas. Para voar é preciso amar o vazio. Porque o voo só acontece se houver o vazio. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Os homens querem voar, mas temem o vazio. Não podem viver sem certezas. Por isso trocam o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.
É um engano pensar que os homens seriam livres se pudessem, que eles não são livres porque um estranho os engaiolou, que se as portas das gaiolas estivessem abertas eles voariam. A verdade é o oposto. Os homens preferem as gaiolas ao voo. São eles mesmos que constroem as gaiolas onde passarão as suas vidas. (Rubem Alves , Religião e Repressão)