
“Após uma reunião entre representantes russos e ucranianos na terça-feira (29), em Istambul, na Turquia, o vice-ministro da Defesa da Rússia, Alexander Fomin, anunciou uma “redução radical” das atividades militares nas regiões de Kiev e Chernihiv, na Ucrânia.” (Rafael Bevilacqua, 30/03/2022 09h21)
Olhou mais uma vez a foto da filhinha antes de guardar no bolso da farda. Estava sujo, cansado, faminto. Há dias de prontidão nesse ponto entre o nada e o lugar nenhum. Não entendia de guerra, mas precisou se alistar e agora estava nesse impasse.
Convocado, não tardou a se apresentar. Não acreditou que seria guerra de verdade.
Dias e dias de silêncio total, quando imaginava que a guerra era a cena de um filme, com tiros, explosões e gritos.
Nada disso.
Apenas dias de silêncio e alguns assovios. Alguma canção popular, um chamado entre amigos, e nada mais.
Faltavam dois dias para o aniversário da filha. E, na tropa, corria um boato que haveria rendição e que a guerra estava no fim. Questão de dias. E isso já durava há semanas.
Sonhava em voltar para casa, rever a mulher e a filha, tomar um banho de verdade e comer comida quente. Mas a sonhada notícia de que a guerra acabara, nunca vinha.
As costas doeram de tanto tempo na mesma posição. Levantou-se para caminhar um pouco e esticar as pernas.
Não viu de onde veio a bomba. Só viu o clarão. Nem ouviu a explosão e nem o silêncio que veio depois.
Para ele, a guerra acabou.
(Imagem: banco de imagens Google)