Escuro

Quando no meio da escuridão um súbito raio riscou o céu
Tive a exata noção do fundo desse nada em que me encontro
Se durante o dia vejo o horizonte apenas do tamanho da circunferência da boca deste poço
À noite pude ver, claramente, toda essa profundidade,
Esse escuro fundo dessa noite sem fim – na qual me debato entre a resignação e o desespero, o desânimo e o nada.
Como vim parar aqui? Quanto desamor tive de suportar para descer até essa noite escura que agora vive dentro de mim?
Quantos caminhos errados percorri até o fim, quantas portas fechadas encontrei em minhas chegadas...
As águas que deviam matar minha sede na verdade me afogaram e me sobraram salgadas lágrimas para a sede amainar
Tantas pedras me foram leito e travesseiro, que meu corpo, lapidado, já não sente mais qualquer dor
E agora já nem sigo, fios invisíveis de angústia infinita me paralisam e tolhem meus passos, não adianta tentar fugir nem me debater
Não saberia o que buscar, onde ir nem onde quero chegar
Então, silenciosamente, eu me entrego - faço uma última prece e imploro “ - Misericórdia, Pai”, e fecho meus olhos.

(Imagem: banco de imagens Google)