
Feira do Livro de Lisboa – Eu participo!

Blog de de Alice – Alinhavando letras
A todas as pessoas que passaram pela minha vida; às que ficaram e às que não ficaram; às pessoas que hoje são presença, àquelas que são ausência ou apenas lembrança… – desde 2008 –


Aparece um arco-íris. Lá longe.
Desenhando a curva do céu.
Dança a autora boreal. Lá longe.
Alegrando outro céu.
Cai uma estrela. Lá longe.
Do outro lado do céu.
A lua surge, dourada. Lá longe.
Bem no alto do céu.
A noite encobre os amantes. Lá longe.
Onde eles têm seu próprio céu.
Há um céu. Para poucos.
Para todos, só o inferno.
(Imagem: banco de imagens Google)

A vida acontece lá fora. Não aqui entre essas paredes. Sou prisioneira de um pesadelo sem fim. Talvez haja luzes e cantos. Mas não os posso escutar. Talvez haja calor e aconchego. Mas não os posso sentir. Talvez haja pessoas brindando à alegria. Mas não posso participar. Continuarei aqui. No escuro. Frio. Silêncio. E tristeza. Totalmente sem futuro. Presa a um longo passado. Onde havia luzes, calor e alegria. Não estou viva. Apenas continuo aqui...
(Imagem: banco de imagens Google)

E eu esperei.
Com a paciência de um pescador,
Sentei-me à beira-mar e esperei.
Por todos os séculos que você não voltou.
Assim eu esperei
Com a alegria de uma criança
Em meio a tantos brinquedos
Por todos os anos que você não voltou.
Então eu esperei
Com a confiança de uma mãe,
De madrugada no canto da sala,
Por todas as noites que você não voltou.
E eu ainda espero
Com a perseverança de uma mulher
Que apaixonada acredita em amar
Eu para sempre esperarei
Por todas as noites, anos e séculos,
Esperarei eternamente pela sua volta
(Imagem: banco de imagens Google)

De longe te hei-de amar – da tranquila distância em que o amor é saudade e o desejo, constância. Do divino lugar onde o bem da existência é ser eternidade e parecer ausência. Quem precisa explicar o momento e a fragrância da Rosa, que persuade sem nenhuma arrogância? E, no fundo do mar, a Estrela, sem violência, cumpre a sua verdade, alheia à transparência.
(Imagem: banco de imagens Google)

“Terceiro ano seguido que, órfã, nada tenho a comemorar no dia dos pais. Esse ano, com a partida do meu padrinho, mais órfã do que nunca. Republico, aqui, a mensagem de 2020, neste – agora – triste dia – para mim.
“Pai, há dezessete meses o senhor nos deixou. No dia mais triste de toda a minha vida. Porque eu não estava preparada para me tornar órfã. Sabíamos que sua ida era iminente, mas ainda o tínhamos aqui. Com seu carinho, sua presença.
O senhor sempre foi nossa força, nosso incentivador, o centro de nossa família. E, de repente, não está mais aqui.
Seu lugar vazio na mesa da casa de nossa mãe dói. Muito.
Chegar lá e não ter o senhor para me receber é de uma tristeza indescritível.
Onde está seu sorriso acolhedor? Onde estão seus lindos olhos amorosos? Por que tínhamos de nos separar assim?
Tantas lembranças, tantas, que não cabem em um só coração.
Meu lugar na mesa era a sua esquerda. E o senhor sempre teve um jeito todo próprio de manter a mão esquerda sobre a mesa. E eu, muitas vezes, deixava meu talher e pegava na sua mão. O senhor abaixava os olhos, olhava fixamente nossas mãos unidas. Depois olhava para mim e sorria.
Ah, pai, o que eu não daria para ter novamente seu sorriso.
O senhor sempre sorria: sorria de alegria, sorria de galhofa, quando fazia suas brincadeiras, e seus olhos sorriam junto. Tenho tanta saudade de seu olhar, pai…
Suas rimas, que podiam até irritar a mamãe, mas divertiam os filhos e netos – especialmente a Carolina – “espera aí, vovô, fala de novo que vou escrever…”… Suas paródias… “… a tal da angélica, moça…” … “…un automobile, naquela esquina…”…
Sua voz, pai, explicando seu ponto de vista, sempre ponderado, nos dando um norte, sendo um farol para nosso pensamento, ainda ecoa dentro de mim.
As histórias de sua infância, da onça, dos tiros, as lembranças de meu avô, (primeiro pai que perdi)… Invernadinha, Negro Dionísio, Tio Ary saltando de guarda-chuva, Romeu montando no burro… tantas histórias, tantas risadas. Ninguém nos conta mais histórias, pai. Ninguém mais conhece o Guilherme J. Kuhll…
Lembra-se da estrada para Morro Agudo? Quantas vezes encravamos para aqueles lados em dias de chuva. Hoje nem se sabe mais o que é encravar. O que é pneu lameiro. O que são correntes… E o senhor nos tirava de todos os embaraços.
E quando o senhor perdeu a paciência com a tal da Odila ou Otília, não me lembro mais do nome, só da feia cara da funcionária de mau humor, na faculdade Toledo de ensino de Presidente Prudente e me mandou de volta para terminar a faculdade em Ribeirão Preto. Sofri, pai, porque eu não queria morar em pensão, não queria morar em outra cidade. Mas fui. E assim que peguei meu canudo vazio das mãos do Dr. Pessini, voltei para casa.
Estou aqui, pai, nesse final de dia, vendo o mar que o senhor tanto amava e nos ensinou a amar também, e tomando meu whisky “regulamentar” como o senhor dizia. E me lembrando de quantos whiskies tomamos juntos – foi o senhor quem me ensinou a gostar do single escocês. E tantas outras coisas na vida que o senhor me ensinou. Só se esqueceu de me ensinar como continuar sozinha, sem sua valiosa opinião, seu apoio incondicional e seu amor de pai.
Não vou comemorar, pelo segundo ano seguido, o dia dos pais. Porque nada tenho a comemorar – só a saudade que tenho do senhor, só a falta que eu sinto de um abraço de pai, que nunca mais terei.
Sei que não serei merecedora de ir a seu encontro na eternidade, mas queria muito, pai, pelo menos uma vez, de relance que seja, vê-lo e abraçá-lo. Mesmo que fosse por uma única vez.
Saudade, meu pai. Muita saudade, e tristeza nesse dia dos pais, e meu eterno amor de filha.”
(obs. – na foto acima, meu pai, Carlos, com a bisneta Helena, do acervo pessoal da autora)