“Admiramos o mundo através do que amamos.” – Alphonse de Lamartine.

Alphonse Marie Louis de Prat Lamartine (Mâcon, 21 de outubro de 1790 – Paris, 28 de fevereiro de 1868) foi um escritor, poeta e político francês. Seus primeiros livros de poemas (Primeiras Meditações Poéticas, 1820 e Novas Meditações Poéticas, 1823) celebrizaram o autor e influenciaram o Romantismo na França e em todo o mundo.
Em 1820 lançou seu primeiro livro, “Meditações” (Les méditations), inspirado num breve amor por Julie Charles, que morreu prematuramente.
Aclamado pela crítica, ingressou na carreira diplomática, o que lhe proporcionou viagens para Nápoles, Florença e Londres.

Frustrado, com a ascensão de Luís Filipe ao trono da França, em sua intenção de ingressar na carreira diplomática, retornou à poesia com Harmonias Poéticas e Religiosas (1830), Jocelyn (1836) e A Queda de um Anjo (1838).
Foi membro do governo provisório e ministro do Exterior em 1848. Depois de sua malsucedida candidatura às eleições presidenciais, escreveu apenas narrativas autobiográficas, terminando a vida em difícil situação financeira.
No fim da vida, o governo o socorre com uma renda vitalícia de 21 mil francos, a título de recompensa nacional. Lamartine morre em 1869, em uma casa que lhe fora doada.
“Admiramos o mundo através do que amamos.” – Alphonse de Lamartine.
Seus poemas são caracterizados por profunda melancolia, cujos temas frequentes são religião e amor. Sua influência no Brasil pode ser encontrada em poetas como Castro Alves e Álvares de Azevedo. (Fonte: Wikipédia)

O Lago
Assim, sempre impelidos a outro litoral, Arrastados na noite eterna e sem voltar, Não podemos jamais no oceano ancestral Um só um dia ancorar? Lago! Mal findou o ano seu curso diário Junto às ondas amadas a que ia rever, Mira! Sento-me aqui na pedra solitário Onde viste-a deter-se! Tu bramias assim sob essas rochas fundas; Ferias-te em ilhargas delas laceradas; Lançava o vento assim a escuma dessas ondas Em seus pés adorados. Uma tarde, recordas? vogando em silêncio; Longe, sobre onda ouvia-se e sob esses céus, Só um som dos remadores em sua cadência Os belos fluxos teus. De repente sinais a nós desconhecidos Enlevo ao litoral, ecos a percutir; Fluxo atento; deixou a voz que me é querida Tais palavras cair: “Ó tempo, suste o vôo! e vós, horas propícias, Suspendei vossa via! Permite-nos gozar as rápidas delícias Do mais belo dos dias! “Muitos desventurados aqui vos imploram: que deslize, deslize Por eles e que dome os medos que os devoram; Esquecei os felizes. “Mas peço em vão alguns momentos para agora, Foge o tempo a escapar; E digo à noite: “Seja lenta”; e vai a aurora A noite dissipar. “Amar então, amar! nesta hora que desliza, Depressa ao prazer, vamos! O homem nunca tem porto, o tempo nem baliza; Desliza e nós passamos!” Tempo de inveja, instantes desta embriaguez, Onde em alta onda o amor verte-nos a ventura, Voam longe de nós na mesma rapidez Como dias de agrura? Pois quê! não fixaremos nem mesmo o sinal? Quê! idos para sempre? quê! todos perdidos? Esse tempo que os deu, tal tempo dá final, Não os terá trazido? Passado, Eterno, Nada, abismos bem sombrios, Que fizestes dos dias que vós devorastes? Falai: nos dareis vós sublimes desvarios Com que nos encantastes? Ó lago! rochas mudas! grutas! mata escura! A vós que o tempo acolhe e pode remoçar, Desta noite, guardai, guardai bela natura Ao menos o lembrar! Que seja em teu repouso, ou em tuas voragens, Lindo lago, e no ver as risonhas vertentes, E nos negros abetos e em rochas selvagens Sobre as águas, pendentes! Que ele seja no zéfiro que freme e passa, Nos ruídos das bordas, em bordas repetidos No astro de fronte prata a aclarar tua face Com seus brandos luzidos! Com o vento a gemer, a cana que suspira, Como em ti, leve aroma em teu ar perfumado, Como tudo que se ouve, ou vê-se ou se respira, Dizem: tinham amado!