Amigos de uma vida

Quando eu morrer o que será feito de meus livros?

Quem os olhará com orgulho,

Quem os manuseará com carinho?

Esses livros – companheiros de vida

Que se foram somando e se deixando ficar

Estão comigo há décadas e décadas

Por os ter, assim comigo, nunca senti solidão.

Quando eu morrer o que será feito de meus livros?

A quem interessará manter todos eles

Assim juntos, numa ordem que só eu conheço

Lidos e relidos a cada tempo certo

Trazendo tantas respostas

Fazendo companhia e dando conselhos

Não me deixando esquecer tantas tristezas

E proporcionando incontáveis alegrias

Quando eu morrer o que será feito de meus livros?

Não mais os poderei ter comigo

E nem sei a quem os deixar para adoção

Como filhos que não queremos ver separados

Eles estão juntos há tanto tempo

Já se amoldaram uns aos outros para

Dividirem o mesmo espaço. Tantas mudanças,

Tantas casas, tantas cidades, e eles comigo.

Sem ordem de preferência, todos amados.

Como garimpeira urbana eu os encontro

Em sebos, livrarias, velhas bibliotecas abandonadas.

Alguns com a dedicatória do autor

Outros até mesmo com a capa estragada

Muitos vieram direto das lojas, novíssimos

Cada um traz sua história e sua verdade.

Um dia – cada vez mais próximo – terei de deixá-los

E partir na viagem sem nenhuma bagagem

Entristecida com a sorte de todos eles, eu pergunto:

Quando eu morrer o que será feito de meus livros?