L’homme n’a point de port, le temps n’a point de rive; il coule, et nous passons! (Alphonse de Lamartine)
Há um entediante repetir do tempo.
Sempre.
Depois do sábado, o domingo. Em seguida, a segunda-feira, e assim os dias se sucedem, sem se importar com as necessidades e vontades de cada habitante do planeta.
Por melhor que esteja o dia, por mais que muitos queiram que ele se prolongue, na hora prevista o sol se põe. Encerra o expediente e vai descansar do outro lado do mundo. E a noite chega.
Por mais que você deseje que essa noite se eternize, infalivelmente, amanhecerá.
Não se pergunta ao humano se ele quer mais umas horas no dia ou mais tempo na noite. Tudo ocorre fora de sua previsão.
Amanhece. Anoitece. Amanhece. Anoitece.
Sol e lua se sucedem indefinidamente. No momento em que o sol se retira, surge a lua, imponente, no alto do céu.
Às vezes se confundem, e há um brevíssimo encontro nos eclipses, mas logo retomam suas posições originais.
Cada um que se programe, se adapte e se conforme. Porque o tempo não é nosso.
E, se prestarmos muita atenção, veremos que todos os amanheceres são exatamente iguais. O sol não escurece, não desbota, não muda de posição do ponto de seu nascer e poente, não se adianta e não se atrasa. E assim também a noite. Tudo se repete de forma tão idêntica, que já nem se nota. Apenas se segue vivendo na sucessão de dias e noites.
E o tempo, implacável, a transformar os humanos em monstros, sempre impessoal e alheio.
Então vejo que na verdade, são os homens que passam – nascem, vivem, envelhecem e morrem. Na arrogante ilusão de que quem passa é o tempo…