Meu amigo poeta se diz triste, muito triste. Posta em seu blog poesias lindíssimas, inspiradas em sua tristeza.
As músicas que mais emocionam são aquelas que versam sobre a tristeza, o desencanto, a desilusão, a perda; os filmes mais vistos e lembrados são os mais tristes.
E no entanto vivemos em uma busca infinita pela felicidade.
Que não vende jornais, não aparece no noticiário da TV, não prende telespectador de novela…
Paradoxal o ser humano. Será que gosta de sofrer? Ou gosta que os outros sofram? Então por que buscar tanto a tristeza para as horas de lazer?
Em seu livro WERTHER, diz o autor Goethe, no prefácio: “E a ti, homem bom, que sentes as mesmas angústias do desventurado Werther, possas tu encontrar alguma consolação em seus sofrimentos!”
Será então que ao ver outro sofrer ainda mais profundamente o sofredor encontra algum consolo, sente diminuída a própria dor? O abraço dos sofredores acalma a ambos, quando os dois corações contritos se encontram e batem em sintonia por alguns segundos?
O que é sofrer? A dor física, o abandono afetivo, o desvalimento emocional, a fome, a sede, a miséria… como definir o sofrer em uma palavra ou ideia?
Em seu pensar Platão já afirmava que a felicidade tem muitas faces, é o calor para quem tem frio, o alimento para o esfaimado, o aconchego para o abandonado… então concluo que o sofrimento também pode se apresentar sob muitas formas.
Ideia corrente é que rico não sofre. Nada mais falso.
O dinheiro em si não é causa nem de sofrimento nem de felicidade. O que o dinheiro pode comprar é fonte de conforto, proteção, distração. Mas isso seria felicidade?
O que o dinheiro não pode comprar não está à disposição de ninguém em particular: o amor, o afeto sincero, a companhia, o aconchego, a ternura… mas tudo tão efêmero que dura o tempo de uma noite de verão na nossa vida.
Se não sofremos não damos valor à felicidade. Quando estamos felizes também não damos valor à felicidade, pois a pomos a perder tão levianamente como se fosse o cachorro, que mesmo batido volta para lamber a mão do dono.
Na verdade acho que não sabemos direito o que é a felicidade. Conhecemos mais o sofrer do que o ser feliz.
Mas a felicidade que se foi não volta mais. O momento vivido se perde no passado e se esgarça como uma musseline ao sol. Temos só o agora, este exato momento fugidio que quando nos damos conta de sua existência já desborda para o passado.
Na verdade só temos futuro e passado. O presente é tão efêmero que não conseguimos retê-lo por frações de segundo. Ele não chega. Apenas passa por nós, na sua eterna viagem do futuro para o passado.
Mesmo assim, com a vida passando tão ligeira por nós, insistimos em sofrer…
Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada:
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.
O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.
Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa, que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,
Existe, sim : mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos
(Vicente de Carvalho)