Sozinha

No interior da casa, / em meio a paredes quebradas / e chão empoeirado, / ainda paira a tua presença. (Miguel Carlos Vitaliano)

 

Insone, aproveitei a madrugada para colocar o trabalho em dia.

Em seguida, pela calma do amanhecer, fui dar uma volta pelos caminhos dos blogs dos amigos, aproveitando os momentos de folga.

Triste surpresa – com exceção do blog do Emidio, todos os outros blogs se encontram abandonados.

Portões trancados de uns, não pude nem entrar. Plaquinha de mudou-se para endereço desconhecido em outros. E, em quase todos, só encontrei muito mato, muito abandono, muita desolação, e a concreta ausência de quem desistiu.

Sensação de fim de linha. Solidão.

Que triste.

Há uns tempos atrás os blogs fervilhavam de novidades.

Acho que encontrei a palavra-chave: novidade.

O ser humano contemporâneo é movido a novidade. E por isso abandona tudo aquilo que deixa de ser novidade e sai atrás de novo trio elétrico que o atrai a cada dia.

Só o novo, o instantâneo, a cópia, o que já vem pronto interessa.

Não consegue mais ser fiel a suas origens, suas raízes, sua família e seus amigos de sempre.

Agora tudo é descartável.

E os blogs foram sendo abandonados, em uma imagem que me faz lembrar as colônias das propriedades rurais, fieiras de casas abandonadas à própria sorte, o mato invadindo os quintais, traduzindo uma tristeza em quem passa pelas estradas, ou, pior ainda, sendo demolidas para dar lugar – ao menos no Estado de São Paulo – à cana. Canaviais, sinal de riqueza e desolação.

E assim, graças às redes sociais, vemos o abandono dos blogs, pois neles não há o instantâneo, mas a perpetuidade do pensamento, atividade isolada que já está fora de moda.

(julho, 2012)

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