Amar Paris

On ne vit qu’à Paris et on végète ailleurs. (Jean-Baptiste Louis Gresset)

 

É difícil dizer por que gosto tanto de estar em Paris.

Talvez porque já lá estivesse estado muito antes de ir pela primeira vez. Ou quem sabe ali vivi em vidas passadas…

Paris é encantadora.

Seu nome se origina provavelmente dos gauleses Parísios que ali viviam até a invasão romana.

Tem história, história viva, que remonta aos gauleses, a cidade – na verdade vila de pescadores – que os romanos conquistaram e chamaram Lutetia Parisiorum em razão da lama quando as águas do rio baixavam…

Não teve glamour no seu nascer – nasceu na lama…

Mas um dia todos os homens a cortejaram, a capital cultural do mundo.

E todas as mulheres a sonharam – a capital mundial do bom gosto e da elegância.

Não gosto da Paris dos turistas. Não vou aos grands magasins. Só recentemente estive na Galeries Lafayette, para acompanhar uma pessoa que viajava comigo…

Prefiro as lojinhas de bairro, lojinhas de franceses para franceses.

Também os bistrôs e restaurantes: prefiro aqueles frequentados por franceses, não preciso dos estrelados, onde se vai mais para ser visto do que para comer.

O que é um capítulo à parte.

Se quiser, venha comigo…

O francês é naturalmente elegante e pouco expansivo, porém muito educado. E se você ali chegar falando a língua deles, sendo gentil e educado, será tratado como um príncipe.

Ouça as pedras das ruas, a voz das muretas do Sena e terá contato com tanta história, com tanto sofrimento, com tanto romance…

Não precisa malabarismos para dizer que esteve em Paris – basta andar dos Jardins du Carrousel e a Place de l’Etoile, sentar-se uma final de tarde no Jardin des Tuileries, caminhar domingo pela manhã pela Rivoli até Boulevard de Sébastopol, chegar no Sena e atravessar a Pont au Change para a Île de la Cité e alcançar a Notre Dame de Paris para a missa do meio dia.

Depois, sem pressa nenhuma, seguir por uma das margens do Sena, garimpando tesouros nos tradicionais bouquinistes.

Coma nos lugares simpáticos e tome sempre um bom vinho.

E ande, ande, ande… a pé, de bicicleta e de metrô. E então poderá dizer que conheceu Paris…

Qu’il faut mourir un jour…

Todas as coisas daqui de baixo são um punhado de cinza. Pensa nos milhões de pessoas – já defuntas – “importantes” e “recentes”, de quem ninguém se lembra. (Josemaria Escrivá)

 

 

Quando a morte, quase sempre sorrateira, vem como um vendaval inesperado e vira nossa vida do avesso, somos surpreendidos por sua força, e temos a exata dimensão de nossa insignificância.

A morte é implacável. Sua lista de chamada não respeita qualquer ordem lógica. Seus meios de agir nem sempre se mostram de acordo com nossas humanas noções religiosas.

Ao longo da vida os felizardos que por aqui ficam, vão deixando pelo caminho tantos familiares, tantos amigos, tantos conhecidos pessoais ou de fama, e mesmo assim jamais a humanidade consegue se familiarizar com a morte e aceitá-la totalmente.

Muitas vezes usa forma chocante para nos tirar alguém. Outras vezes, formas cruéis… Algumas pessoas são poupadas – não há critério lógico nem justo, ao menos a nossos olhos – e morrem com suavidade. Mas – nisso reside a democracia  da grande ceifeira – todos são iguais perante a morte.

Fico a pensar nos que já se foram, sejam da família –bisavós Carlo, Zéqui, Vitória; avós Amélia, Lourival e Alice; tios Luís, Nelson, Myriam, José Augusto e Ary; primo Alexandre, sejam outros dos demais círculos da família. Sejam ainda dentre os amigos, os mais chegados – Walter, Libano, Rita, Lory, Francis, Rachel… e tantos, tantos que deixei em algum lugar, em algum momento da vida…

Disse um dia Benjamin Franklin que o homem fraco teme a morte, o desgraçado chama-a, o valente procura-a e só o sensato a espera.

 

 

Sei que um dia terei de encarar Dona Ceifeira, somente nós duas, cara-a-cara, sem máscaras, sem disfarces. E como será essa hora? Tremerei de medo pela primeira vez em minha vida? ou irei altiva e orgulhosa, com essa coragem que sempre esteve comigo? Enfrentarei com nobreza ou clamarei aos céus por minha vida?

Não há como saber.

 Só quero estar preparada, como no dizer do grande Manuel Bandeira,

“Quando a Indesejada das gentes chegar

(Não sei se dura ou caroável),

Talvez eu tenha medo. 

Talvez sorria, ou diga: 

Alô, iniludível!

O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com seus sortilégios.) 

Encontrará lavrado o campo, a casa limpa, 

A mesa posta,

Com cada coisa em seu lugar.”   

Mas de uma coisa eu sei: seja como for, violenta, natural, suicídio,seja de qualquer forma,não importa o que virá na frente para trazer essa velha com a foice até mim: seja doença, bisturi, faca, tiro, veneno ou caminhão, com toda certeza será o momento mais solitário de minha vida.

Paz e Pace

Há pouco mais de um ano resolvi aceitar um convite da Oficina do Livro e publicar um conto na coletânea bilíngue Incontro Letterario a Milano. Era sobre a imigração italiana.

Com pouco tempo para escrever, escolhi o menor formato. E ali nasceu a pequena Antonella, brava italianinha que imigrou sozinha.

Com espanto e emoção eu soube que haviam submetido os trabalhos a um concurso e eu fora classificada em primeiro lugar. E eu nem sabia que estava concorrendo…

Está aqui, na estante de meu escritório, o troféu do Premio Eccellenza Letteraria 2018. Claro que fiquei orgulhosa. Afinal, é reconhecimento a um trabalho que faço por puro amor.

Hoje, final da madrugada, acordo com as mensagens de que fui novamente classificada em primeiro lugar, agora pela participação na antologia Paz e Pace, também bilíngue, também publicado na Italia – A.C.I.M.A. 

Fiquei – literalmente – sem palavras. Embora soubesse que nessa obra haveria a classificação, não esperava ser classificada. E sê-lo – em primeiro lugar – inflou meu ego.

Meu texto – A Paz é Possível – me trouxe essa maravilhosa notícia logo ao amanhecer.

Só tenho a agradecer aos que escolheram esse texto. E continuar a escrever.

Da inveja (Da= de + a)

Cobiça é querer o que não se tem;

Ambição é querer ter mais do que se tem;

Ganância é querer ter tudo o que se pode ter;

Inveja é querer que o outro não tenha.

 

 

Que triste realidade é a existência do invejoso.

Não passa de um nada, para sempre será um nada, e vive tentando evitar que outros sejam e que outros tenham.

Conviver com um invejoso é um suplício, porque é difícil o relacionamento com uma mente pequena, rasteira.

E, geralmente, a língua do invejoso é bastante grande e leve.

Fala da vida dos outros com muita facilidade. Toca no nome de terceiros com muita leviandade.

Acredito que cobiçar quase todo mundo cobiça alguma coisa – material ou imaterial.

O ganancioso é inconveniente, acaba perdendo o senso de comunidade, de sociedade, não se importa em fazer do ombro que o outro lhe estende num momento difícil um degrau para obter algo que está mais alto.

Ao passo que o ambicioso é o motor do mundo, aquele que faz acontecer porque sabe onde quer chegar e vai buscar, o invejoso é a verdadeira marcha-a-ré da humanidade.

Desde que o outro não tenha ele fica feliz. Desde que o outro não seja ele exulta.

Ele próprio não quer nada para si, não luta por nada. Basta-lhe ver que o objeto de sua inveja não foi, não é, não conseguiu, não tem…

E nada lhe custa por-se a grasnar inverdades e aleivosias para diminuir quem cresce ante seus olhos.

A cada dia que passa mais concordo com Molière, quando disse que La vertu dans le monde est toujours poursuivie. Les envieux mourront, mais non jamais l’envie…