Por que foi que cegamos. Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão. Queres que te diga o que penso. Diz. Penso que não cegamos, penso que estamos cegos. Cegos que veem. Cegos que, vendo, não veem. (Ensaio sobre a cegueira, José Saramago)

Se, atualmente, alguém me perguntar sobre um livro que explique ou retrate nossa realidade, terei dificuldade em apontá-lo.
Talvez faça um “mix”.
O mundo foi alterado. O nosso “modus vivendi” desapareceu para sempre. Depois de escrita a História, alguns fatos sempre são destacados como causadores de mudanças graves e notáveis. Na minha opinião, os futuros historiadores grafarão “depois do atentado das torres gêmeas” que foi o primeiro fato mais catalisador do curso da História depois do final da Segunda Guerra. Teve consequências no mundo todo.
Alguns anos de neurose com relação à segurança, sustos, e então vêm os “naufrágios com morte maciça dos refugiados e imigrantes no Mar Mediterrâneo”, sacudindo o mundo de seu comodismo e mostrando o horror que acontecia do outro lado da civilização.
A par disso, terríveis e violentas manifestações da natureza causando mortes e danos.
E, depois, eles dirão: podemos apontar como fato que marcou o fim de uma era, a “pandemia pela peste chinesa no ano de 2020 – o ano que não existiu”.
Quando o mundo parou, os aviões pousaram definitivamente, as pessoas foram trancafiadas em suas casas, passaram a andar mascaradas em todos os países do mundo, inegavelmente algo mudou. E para bem pior.
Olhando para trás, não só estes últimos 129 dias em que fomos brutalmente atingidos, mas desde cerca de duas décadas atrás, quando o Brasil começou a caminhar sem rumo, para chegar nesse caos, entendo que posso apontar alguns autores que viram ou previram a realidade atual.
Tudo começa com “A revolução dos bichos”, de George Orwell. Difícil acreditar que foi escrito na década de 40, por um inglês, e não no Brasil depois de 2003.
Passamos por Tomasi de Lampedusa, com toques de Marcel Proust e Leon Tolstói.
A situação política vai-se complicando. Entramos em Jorge Amado e Eça de Queiroz.
Aldous Huxley e seu “Admirável Mundo Novo” surgem no horizonte próximo.
De repente, simultaneamente somos jogados nas páginas de Garcia Marquez, por um neo-alienista de Machado de Assis, e passamos a viver um pesadelo de Franz Kafka, com pinceladas de Albert Camus, Daniel Defoe e José Saramago.
E, diante de tudo isso, acredito que voltamos a Orwell, e, que, finalmente, “1984” chegou.
Basta escolher. Todos nos trazem a 2020.