Saudade de meu pai

Às vezes a saudade vem atropelando todos os outros sentimentos, tirando nosso sono e nosso chão. E algumas saudades são invencíveis, situações e pessoas irrecuperáveis.

São tantas saudades sem volta. São tantas pessoas que se foram para sempre.

E a alma dói. O coração sangra. Mas nada se pode fazer. Apenas olhar as antigas fotos, lembrar das circunstâncias em que foram tiradas. E chorar.

Nada melhor do que chorar para amainar a dor de uma saudade.

Mas esse pranto não é um choro qualquer. É um choro sentido. De quem sabe que não terá como recuperar a pessoa ida e perdida. Perder alguém em vida dói. Mas perder para a morte, é irremediável.

Assim choro meu pai. Eu o perdi para a morte. Ao mesmo tempo que agradeci aos céus ter cumprido minha missão de filha, e eu o acompanhei até seu túmulo, a falta e a saudade dele são terríveis em minha vida.

Ah, meu pai, quanto mais o tempo passa, mais sua falta eu sinto…

São dezesseis meses de sua partida para a casa do Pai. E sua falta, diária. Uma vontade indescritível de ouvir sua voz, e, mais ainda, de seus conselhos e conceitos sobre todo esse horror em que nosso mundo se transformou.

Eu queria, meu pai, que o senhor me dissesse como agir, o que pensar, o que esperar dessa pandemia, desse isolamento que não tem fim. Como ajudar nossos irmãos que sofrem privações, fome, e tanto medo e insegurança por causa disso tudo.

Sua opinião serena e ponderada. E, pai, o mais importante, ter a confiança de apenas segui-lo. Saber que se deixasse o senhor ir na frente, meu caminho seria seguro e me levaria onde devo chegar. Porque o senhor nunca se enganava, nunca deixou um filho sozinho, entregue à própria sorte. O senhor estava ali, ao lado, com seu amor inabalável e sua presença firme, a nos dar segurança.

E hoje, pai, sua falta doeu de forma mais aguda. Machucou, pai, quando eu vi nossa linda afilhada, Denise, surgir na primeira prova de seu vestido de noiva. Linda como nunca. E pensei no senhor, no seus olhos amorosamente verdes, e no seu sorriso emocionado, quando o senhor visse nossa querida “dona Dê” entrar na igreja, com seu vestido branco, seu sorriso lindo, e toda nossa emoção e nossa bênção.

De onde estiver, pai, abençoe nossa afilhada. E olhe por nós, que a saudade nos consome. Que um dia possamos novamente nos reunir. Seja em qualquer dimensão. Mas que eu possa, novamente, estar a seu lado.

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