Era a lama da barranca que nunca se secava ao sol
Era o barro da beira do rio que nunca voltava à água
Era o mato verde que sempre se renovava na chuva
Era a mata intensa que distribuía verde para todos ao redor
Como a pétala de luz que se soltou de um olhar apaixonado
E qual uma estrela cintilou no ar até explodir em nova chama
Era a luz do sol trazendo calor para os corações frios
Era a luz da lua refletindo a tristeza do sol na noite quieta
A vida vive entre ondas, oscilando como oscilam as marés
E a calma que se enxerga pode esconder fortes correntes
A natureza guarda em si uma paz intensa e calada
Mas que pode se modificar a qualquer momento, sem aviso
Descem as águas com fortes estrondos em gritos de rios
E ressoam no infinito os trovões anunciando novas chuvas
E a cada novo dia nada mais é como sempre foi antes do hoje
Porque os olhos veem novas luzes, nada se repete, tudo se cria
E o vento, tão quieto, quase sempre invisível
Em seu momento chega e refaz tudo o que um dia existiu
Não há definitivo nem concreto nem acabado em uma vida
Porque até a própria vida não é definitiva, e se acaba
E tudo, na verdade, foi feito da lama da barranca
Que a água desfaz e se mistura na correnteza do rio
E chega ao mar sem memória do que um dia quis ser