O “Catecismo do Revolucionário”, elaborado por Nietcháiev e seu grupo, exige que o revolucionário “coíba com a paixão fria da causa revolucionária” os sentimentos normais da pessoa humana, inclusive o sentimento de honra, porque “nossa causa é a destruição terrível, implacável, completa e geral”. Aos militantes cabe lançar mão de “atitudes brutais” com o fim de levar o povo a “uma rebelião inelutável”, para o que é necessária a união “com o selvagem mundo dos bandidos, esse único e verdadeiro revolucionário na Rússia”. O “Catecismo…” sugere ainda o comprometimento permanente de um grande número de “canalhas” de alta projeção política e social, para transformá-los em “nossos escravos e com suas mãos desestabilizar o Estado”. (Um romance profecia – Paulo Bezerra, em “Os Demônios”, de Dostoiévski, pág. 689, 1ª ed., 2004, Editora 34, tradução de Paulo Bezerra)

A utopia da igualdade entre os homens jamais morrerá. Se bem resolvida, sempre há de levar à melhoria nas condições de vida dos menos favorecidos, fomentando o bem comum.
Porém o que vemos é seu uso para o mal comum e o bem particular. Assim aconteceu em todos os países em que o comunismo já se tornou governo, sempre instalado através da força e mantido através de ditadura violenta e sangrenta.
No Brasil não conseguiram através da força, ainda que tenham tentado – mas a indolência atávica do povo nem sequer foi capaz de dar sustentação às – tão cantadas – pretensões de estabelecer o regime do povo e realizar o bem comum.
Tentaram na guerrilha urbana, tentaram na guerrilha rural, tentaram, tentaram, mas desistiram de lutar. Preferiram o caminho moderno da mentira, do marketing, da enganação, do puro engodo.
Para tanto, nada melhor que um bom publicitário, bem treinado para enganar a população, levando o povo a consumir o que não quer, a comprar o que não precisa. E seu principal instrumento, claro, é a TV. Entram, assim, descaradamente e sem convite em todos os lares. E mentem.
E mentem.
E mentem.
Para eleger o eterno candidato sempre derrotado inventaram-lhe até uma família feliz, deram-lhe uma esposa dedicada (nas trocentas campanhas anteriores ninguém viu família, ninguém viu esposa – apenas uma filha exposta pelos adversários de maneira desrespeitosa e atrevida).
Pintaram o diabo de cor-de-rosa e o fizeram passar por anjinho-de-procissão.
Mas, uma vez tomado o poder, os meios de agir se mostraram logo que a única intenção era o caminho para a ditadura e havia apenas e tão-somente um projeto de poder. Não um projeto de governo.
Navegando em calmos mares com muito vento a favor, resultado de uma conjuntura dos astros que poupou o mundo, por mais de seis anos, de qualquer crise econômica mais séria e aqui, particularmente, resultado de uma política séria adotada pelo governo anterior, em parte mantida descaradamente por seus opositores, para quem os fins justificam todos os meios, conseguiram alguns resultados.
Instituída a esmola governamental, fizeram os miseráveis se sentirem apenas pobres. Levaram ao maior endividamento privado da história.
Mas há um grande obstáculo: resultado da constituinte de 88, encontraram as instituições fortemente solidificadas.
Uma a uma necessitam demolir. Para isso, usam todos os meios.
O parlamento já foi desmoralizado, através da compra de parte de seus integrantes baratos, os quais estavam à venda.
Dezenas de milhares de cargos de confiança foram criados e se adonaram de todas as grandes empresas públicas e mistas, num aparelhamento sem paralelo.
Mas duas Instituições bravamente resistem: o Judiciário e o Ministério Público.
Seus membros não estão à venda. Ainda que a maior corte do país se encontre atualmente semi-aparelhada, uma vez que seus ministros ali são colocados por critérios estritamente políticos, não necessitando sequer de maiores conhecimentos jurídicos, não é o que acontece fora da “corte”.
Isso porque, cá embaixo, somente através de sério concurso público de provas e títulos dá-se o acesso a essas carreiras. E aqui não tem afilhado. Não tem compadre. Não tem política. Embora o dono-da-pátria anterior tenha dito que concurso público não é justo porque só aqueles mais bem preparados conseguem passar (ele desconhece a finalidade do concurso, exatamente de filtrar os mais bem preparados para o exercício das funções relevantes), é de ser reestudado o modelo atual, pois ainda vigente a vergonha do quinto constitucional nos Tribunais, mero resquício da Constituição de 1934, do milênio passado, e mais que ultrapassada.
Então só resta uma saída: vendo que esses vocacionados e inteligentes eles não cooptam, enquanto que os tolos nos quais cavalgam não conseguem penetrar nessas carreiras, o único jeito é criar leis espúrias de destruição das instituições, através da retirada imoral de suas prerrogativas e cassação de seus poderes de agir.
Claro que, para tanto, contam com a ignorância da população, assim mantida através de programas de (des)ensino básico e (des)educação sistemática.
Aparentemente conseguimos uma discreta virada de rota, mas ainda é cedo para acreditar que nos livramos dessa praga da esquerda. Talvez só estejamos numa pausa técnica, entre a marola e onda furiosa que dará outro rumo a nosso país.
Caminha, ainda hoje, minha amada pátria para um abismo escuro e profundo, de onde – estremeço ao pensar – não sairá jamais…
(Ilustração: Caos, por Roberto Riolo)