
As noites, de insônia, são longas e sofridas
Os sonhos não vêm, porque não há sono
Os pensamentos dominam e não são dominados
Ainda que sejam penosos e tragam dores.
Somente as lembranças ruins estão presentes
Nessas horas em que a saudade aumenta
Até atingir o impossível ponto do total.
Não há lágrimas – de há muito já secaram
Apenas a tristeza infinita de continuar vivendo.
Em breve já não haverá amanhãs
Tudo é passado, tudo se transforma em lembranças
E, mesmo sem crime, há sempre a pena imensa
De cumprir a vida, sem gosto, sem futuro.
Quando enfim o cansaço vence a insônia
E por minutos adormeço buscando o repouso
Por instantes o descanso se faz presente
Mas logo vem despertar o novo dia raiando
Eu me deixo no passado das lembranças
E tento, dia após dia, recomeçar a vida,
Essa é minha resistência, meu elo vital,
Como o sol que brilha depois da tempestade,
Como a flor que insiste em abrir no asfalto
Como o fruto que desafia a pedrada e amadurece
Eu consigo, a cada alvorecer, voltar à vida;
Entendo, nessa hora, que, a cada amanhecer,
Simplesmente eu não desperto – eu renasço