
Não ouviu o ruído do cristal se partindo.
Sentiu o coração apertado ao constatar a perda
Mesmo sendo antigo, mesmo desgastado pelo tempo
Era algo que trazia consigo há algumas décadas,
E não desejava ver tudo destruído tão de repente.
Olhou os pedaços espalhados brilhando sobre o tapete
Abaixou-se e começou a recolher cada brilho, cada fagulha
Alguns, mesmo lindos, mesmo pequenos, feriam seus dedos
Fazendo sangrar as lembranças de tempos idos, distantes
Tantos caquinhos que juntos tinham formado esse todo
Que agora chegava ao fim. Como a própria vida,
Tudo encontra seu fim, de alguma maneira, anunciada
Ou inesperada, mas há um momento em que se acaba.
Tentou, ainda, colocar cada pedacinho em seu lugar
Na frágil esperança que tudo poderia ser reconstruído.
Viu que era irrecuperável. Acabou de ajuntar
Todos os cacos ali espalhados, como lágrimas caídas
Colocou com carinho em um mesmo potinho
E, sentindo os olhos se umedecerem,
Jogou fora o que sobrara daquilo que um dia
Até mesmo chamara de amor. Mas acabou.
(Imagem: banco de imagens Google)