A todas as pessoas que passaram pela minha vida; às que ficaram e às que não ficaram; às pessoas que hoje são presença, àquelas que são ausência ou apenas lembrança…
Aquelas casas tristes da periferia, paredes rachadas,
Tintas descascadas, abrem suas portas ao amanhecer
E despejam no mundo, infelizes, seus moradores, filhos da miséria
Que não têm vida, só trabalho, e apenas sobrevivem
E dali saem a cada manhã, teimando em tentar viver
Meninos arredios, moças sonhadoras, mulheres sem sonhos
E homens de mãos e almas calejadas da dura lida
Cada um leva consigo uma história de desencanto
E por mais um dia lutam, batalham e esperam
Que o amanhã lhes traga finalmente a boa nova
Sem se dar conta que esse dia na verdade, não é mais um
É, na verdade, menos um que descontam no viver
E quando a noite enfim apaga o sol e fecha o dia,
todos ali retornam, rostos tristes, corpos tão cansados
buscando um abrigo, um repouso, seu descanso
E então dormem seus sonos sem sonhos, só pesadelos.
Nessa hora as casas os recebem, na volta de mais um dia
Sem alarde as casas então abertas para abrigá-los, em silêncio
Docemente como grandes mães protetoras
Fecham suas portas, esperando novo amanhecer
(Sta. Gertrudes, 18.09.15)