
Agosto. Mês das pipas. Com tanto vento sempre foi o mês preferido dos pipeiros. Esperávamos ansiosos os dias de vento para então empinarmos nossos papagaios e sonharmos nossos sonhos de altos voos.
Agosto, chamado também de mês do cachorro louco. Até hoje não encontrei nenhuma explicação no mínimo razoável para essa crendice boba.
Agosto, mês do desgosto. Seja por ser a data de partida das caravelas, na época das grandes navegações, seja por uma sucessão de infaustos acontecimentos políticos que se deram coincidentemente nesse mês, seja pela passagem da constelação de Leão, que se tornava visível nessa época e os romanos temiam que fosse um dragão que passeava no céu… mas nada comprovado que esse mês traga mais gosto ou mais desgosto do que os outros onze meses do ano…
Nada tenho a favor ou contra o mês de agosto. Mas, não nego, esse mês me desperta um prazer especial – ver os ipês em flor.
Apaixonada que sou por plantas em geral, o ipê ocupa um lugar especial em minha predileção.
Assim, quando fiz minha primeira casa, plantei dois ipês amarelos marcando o caminho que levava à piscina. E, no fundo da casa, oito ipês, alternando roxos e amarelos, ao longo da calçada.
E esperava, ansiosa, as primeiras floradas de agosto.
Dia 1º de agosto era aniversário de minha mais que querida Maria Hortencia (quanta saudade, quanta tristeza desde aquele trágico dia 21 de maio).
Ela passava na minha casa para o café – servido no balcão da cozinha, seu lugar preferido – e para conferir se o ipê havia florido em homenagem a seu aniversário.
Ainda que uma singela florzinha, no dia 1º de agosto, um dos ipês do jardim amanhecia com seu ponto amarelinho.
Era o presente de aniversário da Maria Hortencia.
Depois de sua precoce partida os ipês amarelos continuaram a homenagem. Todo dia 1º de agosto amanhecia com a primeira flor aberta no ano. E a saudade dela doía mais fundo nesse dia, no abraço que não podia ser dado.
O tempo passou. Primeiro ela se foi para o outro lado do espelho. Depois de algum tempo, fui embora da cidade, passados alguns anos, os ipês também morreram.
Ainda há agosto, ainda há ventos. Mas já não empino pipas nem tenho ipês no quintal.