
Quando a moça o viu pela primeira vez, apaixonou-se. Era o pássaro mais lindo que já vira, de canto mais doce que já ouvira.
Deixou-se ficar, enlevada, à janela, olhando para ele como hipnotizada. Ele a notou. E cantou ainda mais bonito para fixar sua atenção. E pousou na janela, tão perto quanto uma ave chegaria de alguém.
Quando imaginou que ele viria até ela, ele, simplesmente, voou para longe e desapareceu.
Ela não mais o viu nem ouviu. Mas nunca o esqueceu. Tinha certeza que ele voltaria.
Então teceu um cordãozinho fino, com delicada laçada, onde o prenderia quando ele estivesse novamente ali.
O cordãozinho ficou guardado em uma caixinha de porcelana ao lado da janela. Muito tempo se passou.
Ela, já nem tão moça mais, um dia ouviu novamente o canto que a encantou. Chegou até a janela e o viu, na árvore mais próxima. Ele cantava em direção à janela.
Quando a viu, voou até o batente e mostrou toda a beleza de suas cores e de seu canto. E entrou na casa, ali ficou.
Ela guardou o cordão da laçada, acreditando que ele viera por vontade própria e ali ficaria para sempre, onde era tão amado.
Não o prendeu. Nem mesmo tentou prender. Deixou-o livre como nascera. Feliz por ele estar ali.
Até o dia em que ele voou. Desapareceu. Nunca mais ela viu o pássaro nem ouviu seu canto. Mas não o esqueceu.
Ela, ainda hoje, já senhora, é vista na janela, olhando para a árvore, segurando, nas mãos, um fino cordãozinho do amor com uma delicada laçada da paixão.
(Imagem: “A janela”, de Maria Alice)