Dia de poesia – Walter Duarte – Andarilho

(Capa do livro Andrailho, do autor Walter Duarte – Oficina do Livro Editora)

Vasculhei minha trouxa de mendigo,
passei a examinar tuo o que trago.
Sozinho, e tendo a noite por abrigo,
olhei-me nos remendos dos meus trapos.

Uns restos de lições sobre uma Cruz,
que se encontram puídas no meu fardo.
Da infância, esses pedações já sem luz,
envoltos por lembranças de alguns cardos.

Bastante enferrujadas pelo tempo,
as malhas de uma insípida moral,
cruel, aprisionou meus sentimentos,
levo tantos remorsos no bornal.

Migalhas de coragem, muito medo,
o mapa de uma estrada que é sem meta,
Um pouco, quase nada um arremedo,
de uma verve vesana de poeta.

Eu devo ter perdido no caminho
a esmola que pensei felicidade,
só encontrei os fiapos do carinho
de um doce desejado, e uma saudade.

No balanço do vento é que me embalo,
minha alma com artrose e solidão,
que ferem, mesmo assim sempre me calo,
já velho... a manquejar na escuridão.