
A noite estava muito linda para se ficar em um quarto. Pegou seu cavalete, uma tela, suas tintas e pincéis e saiu.
Encantou-se com as cores que o entardecer trouxera e mais ainda com as estrelas que brilhavam sobre Arles.
Em uma calçada, montou a tela no cavalete, tomou emprestada uma cadeira da mesinha de um café ainda aberto, e começou a pintar.
Pintou as casas com as cores que a luz da rua projetava sobre as fachadas.
Pintou as janelas contra-iluminadas por lâmpadas artificiais.
As pedras das ruas em seus diferentes tons.
E então, olhou para cima, e pintou o céu, as estrelas e a noite.
Não usou tinta preta, porque não via a noite negra.
Pintou os azuis que o anoitecer deixara no céu.
Pintou as estrelas que piscavam louca e alegremente em todo o firmamento.
E nunca mais pensou em pintar uma noite com tinta preta, porque entendeu o que enxergava, e que, na verdade, o azul permanecia no céu depois do anoitecer. Bastava ter a memória do dia e os olhos de artista.
(Imagem: Terrasse du café sur la Place du Fórum à Arles, le soir – pintura de Vincent van Gogh, 1888, banco de imagens Google)