Qualquer um pode contar o número de sementes em uma maçã. Mas só Deus pode contar o número de maçãs em uma semente. (Robert H.Schuller)
Assisti Julie e Julia, filme baseado em duas histórias reais.
A primeira, Julie Powell, americana, vida desmotivada, decide fazer, em um ano, todas as receitas culinárias do livro de Julia Child – mais de 500, em 365 dias. Não é cozinheira, só quer algo motivacional. Para tanto inicia um blog narrando suas peripécias na empreitada. Faz sucesso. Torna-se escritora.
A segunda, Julia Child, também americana, segue para Paris acompanhando o marido, adido cultural na embaixada. Desmotivada, despatriada, tenta vários cursos até chegar no Cordon Bleu, onde passa apuros mas acaba o curso e ainda escreve um livro de culinária que se torna uma bíblia para as “americanas sem empregada” como ela mesma afirma.
Meryl Streep faz a Julia Child. Não com a maestria habitual.
Talvez tenha se baseado na pessoa de Julia Child e essa fosse a pessoa de fala afetada e voz fora de tom, não sei. Mas duvido que Meryl Streep errasse tanto ao compor um personagem. Chega a ser irritante. Nada que se compare com Donna, de Mamma Mia, onde sua atuação é um show à parte, suplanta a própria paisagem do filme.
Também em Simplesmente Complicado Meryl Streep se supera, em uma comédia adulta, leve e interessante.
Lembro-me de sua atuação em As Pontes de Madison, contracenando com Clint Eastwood, a paixão madura de uma mulher que não passa de uma parede ou uma peça da casa para a família, e, na ausência desta, conhece o ardor de uma paixão proibida e maravilhosa cuja lembrança a sustentará até a morte. É o adultério mais bonito da estória do cinema.
Por outro lado, muitos são os filmes que giram em torno da culinária (Como água para chocolate; A festa de Babette; Simplesmente complicado; Tempero da vida; A grande noite e muitos outros, sem que seja esquecida a fabulosa omelete de 24 ovos que Marcello Mastroianni prepara para a amada em Os girassóis da Rússia…)
Mas, voltando ao Julie e Julia, tiro duas conclusões:
1.- os blogues ainda vão substituir todo o contato humano. Não é preciso mais se conhecer para ter amizade, relacionamento comercial nem nada. Basta entrar num blog e começar a comentá-lo com o autor, e logo se inicial uma amizade, uma intimidade, que talvez em relacionamento pessoal nem acontecesse ou demoraria muito para se chegar lá.
2.- todos – no caso as mulheres – podem se redescobrir através da culinária.
Sou suspeita para falar nesse assunto, em razão da minha paixão pela cozinha.
Mas tenho que confidenciar: cozinhar acalma, relaxa, traz realização. É um desafio compensador, o resultado é eletrizante.
Já disse que considero a culinária minha alquimia: transformo coisas duras, insossas, feias, mal cheirosas, de aspecto ruim em comidas saudáveis, macias, cheirosas, apetitosas…
E nada há mais gratificante que presenciar o prazer de quem degusta essas refeições, ver a satisfação – visão-olfato-e-paladar satisfeitos e agradados.
Sejam os sofisticados frutos do mar ou risotos ou uma simples omelete – de origens imemorial. Segundo a Wikipedia, “acredita-se que a omelete surgiu na antiga Pérsia. Ovos batidos eram misturados com ervas picadas, fritos até ficarem firmes, e depois cortados em pedaços, para formar um prato conhecido como ‘kookoo’. Acredita-se que tal receita alcançou a Europa através do Médio Oriente e da África do Norte, onde sofreu adaptações e originou a frittata italiana, a tortilla espanhola e a omelette francesa.
Na França, sua criação é atribuída a Annette Poulard, em 1888, no Monte Saint Michel, na Normandia. Ela elaborou uma refeição nutritiva e fácil de preparar para os famintos peregrinos que chegavam ao Santuário de São Miguel. Hoje, na entrada do local, existe o restaurante Mére Poulard.”
Somos da religião que nasceu em torno de uma mesa, na divisão do pão e do vinho. Nossas famílias se reúnem à mesa, para refeições e convivência. Temos a tradição de encontros ao redor de uma mesa.
Resumindo, por melhores que sejam os blogues e seus autores e leitores, nada substitui o encontro para degustar uma boa refeição. Principalmente se feita pelos próprios comensais.
(11/07/10 )