40 anos sem Vinicius.

Era manhã do dia 9 de julho. De 1980. O telefone – único meio de comunicação por voz na época – traz a notícia. Vinicius de Moraes morreu. O impacto de ouvir isso causou de início o fenômeno da negação. É mentira. É trote. Ele não pode ter morrido.    

Mas era verdade. Horas depois chegam os jornais do dia.    

Matéria de capa e de caderno especial. Vinicius de Moraes está morto.    

Dessa triste manhã até hoje, sinto o luto do vazio deixado  – não haveria outras poesias, novas canções, o inseparável copo no banquinho ao lado nos palcos dos shows, porque não haveria mais shows… quem cantaria o amor daí em diante, quem demonstraria, pela escrita, explosões de paixão incontida?    

Ano após ano, nesse dia, se por um lado o coração explode de orgulho paulista pela revolução de 32, do outro as lágrimas correm pela eterna paixão que se foi. E assim se passaram incríveis quarenta anos de minha vida. Mais anos sem Vinicius do que com Vinicius. Conheci sua poesia por volta dos 8 ou 9 anos de idade. E o encantamento foi imediato. Dura até hoje. E, por sua obra, de certa forma ele continua vivo e presente na minha vida. Dificilmente eu passo um dia sem ler alguma poesia dele ou ouvir alguma de suas músicas.    

Vinicius era um homem além de seu tempo, cosmopolita, que não se constrangia em se mostrar inteiramente. Era um superlativo – na inteligência, na cultura, no carisma, na arte e na paixão.    

Mas os tristes tempos de hoje não seriam seu tempo. Esse não é seu mundo, no qual havia glamour, alegria e liberdade.

Como Vinicius viveria sem os bares de Ipanema? E de qualquer outro lugar? Sem a coisa mais linda e cheia de graça da garota que passa a caminho do mar?    

Não há mais sorrisos nem beijos – as máscaras os impedem.     

Hoje não poderia mais Paulinho dar aulas a Elizete na Nascimento e Silva.      

Por mais paixão que ele tivesse, mesmo se ela quisesse, não se poderiam encontrar – os aeroportos estão fechados e os voos cancelados há meses.    

E ele poderia falar em saudade, mas não estariam na noite, nos bares, onde se amavam em total solidão. Nada mais existe. Aquele nosso mundo se acabou.    

E não pode mais haver shows. Mas chatíssimas lives onde impera um estridente patrulhamento ideológico.    

Vinicius está melhor na mesa do bar do céu com seus companheiros.    

Mas ele, mesmo que fosse apenas chama, é imortal. 

Cantou – em prosa, verso e música – a tristeza e a alegria. O amor e a separação. O encontro e o desencontro. E, com sua Dialética, explicou ao mundo porque era triste:

“É claro que a vida é boa 
E a alegria, a única indizível emoção 
É claro que te acho linda 
Em ti bendigo o amor das coisas simples 
É claro que te amo 
E tenho tudo para ser feliz 


Mas acontece que eu sou triste…”

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