
Tempos estranhos. Um eterno “déjà vu”. Tudo se repete na maior monotonia, como se eu fosse ponteiros de um relógio, condenados a rodar eternamente em torno de um mesmo mostrador.
Mas um “déjà vu” negativo. Uma monotonia destruidora de almas.
Não é sobre ficar em casa.
Porque é uma bênção ter uma casa para ficar.
Mas sobre a compulsoriedade. Sobre a proibição. Sobre a limitação de minha liberdade individual, meu direito de sair. De viajar.
Não é sobre isolamento social.
Porque nunca fui muito sociável.
Sempre vivi bastante sozinha.
Mas sobre estar impedida de me reunir com as poucas pessoas cuja companhia me agradam.
Não é sobre portar máscara.
Acho até bonitas as máscaras do carnaval veneziano.
Cheguei a usar máscaras em carnavais.
Mas nos olhos. Não impedindo as pessoas de sorrirem umas para as outras.
Não é sobre a doença que está acontecendo.
Porque todos, mais cedo ou mais tarde, adoecemos e morremos.
Assim é nosso ciclo vital.
Mas sobre já estarmos mortos, enterrados, isolados, violentados em nossas liberdades civis. Estamos morrendo de tanto medo de morrer.
Não é sobre o governador ter ou não competência para editar esses atos.
Até agora isso não foi questionado.
Nem sobre a necessidade de tantas restrições.
Mas da passividade bovina do povo em aceitar tudo isso, permitir esse abuso. E, de joelhos, beijando as mãos e agradecendo aos carrascos, acreditando que isso tudo é “para seu bem”.