
O que está escrito no caderno da sua vida?
No dia em que você nasceu, recebeu um caderno com as folhas em branco e uma caneta, que deveria ser usada para nele escrever. Mas só poderia escrever o dia presente.
A cada dia, deve-se, com a caneta do livre arbítrio e a ações diárias, escrever uma página. Ao final, estará pronto o relato da sua vida, que deverá ser levado de volta quando for para sua solitária viagem sem retorno.
Não é possível voltar e corrigir nada nas folhas dos dias passados, e, da mesmo forma, uma trava impede de se ir adiante do dia presente e até mesmo de se ver quantas folhas existem no caderno da vida.
O que se escreveu, está escrito para sempre. O que se realizou, está realizado.
É permitido reler, à vontade, todas as folhas passadas.
Ver os erros, os acertos, as tristezas, as alegrias, as vontades satisfeitas e os desejos pendentes.
Muitas vezes, na iminência de repetir um erro, reler uma página leva a se mudar a vontade e a ação. Mas aquele erro passado, esse não como apagar nem mudar.
E a releitura do passado traz conforto emocional, saudades, lembranças.
Disso é feita a vida – o conforto de se ter a certeza da solidez dessa vida, as saudades de tantas pessoas que passaram por todos e cada um, e se perderam em cadernos alheios, e as lembranças de coisas, situações, cidades, tudo aquilo que se viveu buscando apenas ser feliz.
Quando se percebe, a parte preenchida já é bem mais volumosa do que a parte reservada ao futuro. É preciso aceitar a passagem do tempo, saber que há muitos mais ontens do que amanhãs.
E não se pode escapar dessa realidade: só restam algumas poucas páginas para escrever. Então se começa a tentar escrever mais devagar, fazer cada página render, colocando mais critério nas vontades, nas ações, nos desejos.
Até que um dia um vento qualquer abre o caderno em uma folha de um passado distante, mas que nunca passou de verdade, e a saudade obriga a se deixar tudo e buscar esse passado, não importando mais quantas folhas ainda restam, desde que se resgate aquele momento. E se tenha, então, a melhor parte da vida para escrever.