
Poeta, onde é sua morada? Quero encontrá-lo, ver onde vive, do que é feito seu mundo. O poeta me recebe, mas não é bem uma casa onde ele mora. Sua morada é o mundo, seu telhado é o céu De dia ele avista as nuvens, à noite dialoga com as estrelas Também não tem paredes, porque o poeta é livre Seus limites são os limites do Universo Não precisa portas nem janelas, não há cercas nem muros O chão do poeta é o imenso oceano Pisa nas espumas das ondas, repousa nas marolas Os vizinhos do poeta são as matas, os rios, A natureza tranquila e exuberante Na casa do poeta se ouvem o mar, o vento e o silêncio E os suspiros da paixão não correspondida Se vêem os quadros das lágrimas dos que choram por amor Pode-se tocar o concreto sofrimento dos abandonados Tudo é etéreo, tudo é difuso Porque o poeta medita, em profunda solidão, vive dentro de si para conseguir ver o mundo Procurando a morada do poeta, não a vi Ela não está sobre a terra, não está no horizonte Descobri então que o poeta, na verdade Mora na alma dos apaixonados Vive a eterna dor da finitude da paixão Em contraste com o amor infinito Sua alma abriga todas as penas humanas E seus olhos enxergam o que ninguém vê O poeta mora na brisa que sopra No brilho de cada estrela da madrugada Nos pingos da chuva mansa que nos acalma Nos sons do pranto do desesperançado Ah, poeta, agora que consegui vir à sua casa Deixa-me, eu também, morar nesse universo...
(Imagem: banco de imagens Google)