Tempestade (Memória, um ano)

Não vi como essa tempestade começou. Nunca consigo ver de onde vêm os temporais. Estava distraída, cochilando, talvez dormindo. Só sei que aquela brisa, aquele ventinho gostoso que diminuiu o calor, subitamente transformou-se em violento vendaval. E o céu se abriu, e a chuva caiu com força, muita força.

Portas e janelas precisam ser fechadas, não há a menor condição de se sair de casa. Tudo voa lá fora com a força do vento. Árvores caem.

Não tenho como abrandar o vento. Não tenho como amainar a chuva. Então trato de acalmar minhas emoções, esperar a tempestade acabar e seguir a vida.

Em algum momento a tempestade se cansará de causar tantos estragos e se irá. Para onde? Não sei. Provavelmente para algum lugar onde havia ordem e beleza, para o qual levará o caos e a destruição. É sua sina, é sua missão. Para isso surgem as tempestades.

Ouço o rugido do vento – poderoso, destruidor. Escuto o barulho da chuva – não a chuva mansa que lava o ar, mas a borrasca. Penso na minha vida. Quantas tormentas, vendavais, aguaceiros, raios e trovões já enfrentei…

E, em todas as ocasiões, impotente em minha humana fragilidade, apenas abaixei a cabeça para esperar que tudo passasse, na firme certeza da bonança que viria.

Isso que mantém o fio da vida preso a nós: mesmo nas piores tempestades, a fé na calmaria que há de vir.

Em dias de tempestade não há sol. Em noites de tempestades não há lua. Em vidas atormentadas não há amor nem paixão…

E agora, quando a tempestade começa a enfraquecer, eu me preparo para voltar à vida. Ainda que meu jardim esteja destruído, as pétalas das flores arrancadas formarão um lindo tapete que me apontará para onde deverei seguir.

(Imagem: foto de Maria Alice)

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