
Hesitante, sem muita certeza do que fazia, buscou a velha mala no fundo do armário do quarto de despejo.
Abriu-a, passou uma rápida vistoria – estava em bom estado e limpa.
Adiou mais um pouco a decisão.
Mas não tinha volta. Teria de partir.
Abriu armários e gavetas.
Se não sabia nem para onde estava indo, como poderia saber o que levar?
Olhou as roupas, tão conhecidas, tão usadas.
Mas para aqui.
Não para sabe-se lá onde.
Era impossível continuar nesse lugar onde não vivia. Apenas sobrevivia e se arrastava, assim como os intermináveis dias que se sucediam há mais de um ano. Uma vida sem nenhuma vida.
O mais difícil era tomar a decisão de partir.
Essa já conseguira tomar. Ia partir.
Iria embora, para sempre. Para perto, para longe, não importava. A necessidade era ir.
Pensou mais um pouco, tentando duvidar se tomara a decisão mais acertada.
A cabeça se recusava a dar meia volta – decidira que era de partir e partiria.
Fechou a velha mala.
Vazia.
Se não tinha para onde ir, para que a mala?
Pegou a bolsa com documentos e dinheiro. Era tudo o que precisava. Nada mais. Nem malas nem bagagens. Só as lembranças e a solidão.
Saiu sem nem mesmo se dar o trabalho de trancar a porta.
E partiu.
(Imagem: banco de imagens Google)