O que é mais bonito – ver a montanha da planície ou escalar a montanha e ver a planície lá do alto?
Acredito que a montanha vista da planície é a visão mais linda que se pode ter da montanha. Mas escalar a montanha dará como prêmio, a vista da planície e do horizonte.
São ângulos completamente diferentes. Não é possível comparar.
Deitar na grama e olhar o céu, o leve movimento das nuvens, fitar o azul profundo. Não é a mesma visão que se tem de quando se está “no céu” – as nuvens são diferentes. A Terra não é de uma só cor.
Quando um olha para o mar, vê o mesmo mar que o outro está olhando? Ou enquanto um olha as espumas, o outro só vê a linha que o separa do céu?
Assim é a vida. O que um vê não é o que o outro vê. Mesmo que estejam, lado a lado, olhando para o mesmo objeto.
A experiência, as dores, os amores, as frustrações e as alegrias de cada um o faz ver tudo de forma personalizada. Cada um vê o que olha e não pode enxergar o que o outro vê.
Por isso tão difícil a convivência.
Não se pode esperar receber o que se dá – seja amor, seja atenção, seja carinho. E nunca se sabe o que o outro espera.
Coisas indizíveis, que se quer sejam dadas por mera adivinhação.
E a quebra das expectativas aumenta a cada dia.
As pontes se vão na torrente das pequenas desilusões, que, unidas, fazem caudaloso rio.
As portas se fecham.
E a distância se impõe.
Como a nuvem que se dissipa lenta e quase imperceptivelmente, a paixão se esvai. E um dia se percebe que todo aquele tsunami de sentimentos desapareceu, ficou só o fundo azul do céu, que já escurece no prenúncio da noite existencial.