Vamos tomar um café?

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Quantas milhares de vezes eu disse a frase “Um café, por favor”. Em português, italiano, francês, inglês, espanhol… E mais: quantas centenas de milhares de xícaras de café eu já tomei nessa minha vida…

É quase automático. É natural.

E dizer – ou ouvir “vamos tomar um café.”?

Confesso – sou viciada em café. Cresci em uma família onde o café tem lugar de destaque. Sem hora para ser servido. Porque sempre teve café à disposição o dia todo. Além de tomar muito café, minha mãe nos incentivava a beber também. Desde pequenos, ainda no colo, já podíamos tomar café.

E assim fomos criados. E a geração depois de nós conheceu o café ainda bebês. Sempre despejando no pires, para esfriar.

E hoje minha mãe vê bisnetos bebendo café. Você chega na casa da minha mãe, e logo ela vai “passar” um café.

Isso em casa.

Sempre trabalhei fora. Então tive de engolir muito café horrível. Aqueles de fóruns pela vida afora, que eram feitos pela manhã e mantidos em grandes bules na água fervendo. Horrível.

Eu sempre gostei de café feito na hora. Por mim não precisaria nem existir a horrorosa garrafa térmica.

E, na cidade de São Paulo, com todos os cafés por todos os lados, como viver sem tomar café?

Expresso, curto, duplo, pingado, média, macchiato, cappuccino… Das padarias para as modernas e sofisticadas cafeterias, migramos e apuramos nosso gosto em saborear uma xícara de café.

Há cidades nas quais, assim como em São Paulo, encontramos cafés em todas as esquinas, com suas mesinhas para quem tem tempo sobrando ou quer ler um jornal, e balcão para quem não vai se demorar.

Em compensação, já estive em cidades onde simplesmente não existe uma cafeteria, e, no máximo uma máquina antiquada em alguma padaria, usando café de segunda. Mas não tenho opção, se não tomar café, não sobrevivo.

Meu dia começa com um expresso duplo, puro. Antes do meu café prefiro que nem falem comigo. Que respeitem – estou de pé mas não necessariamente acordada.

Minha máquina de expresso sempre pronta, quando passo pela cozinha ela me diz “Oi!”. E o baleiro ao lado, oferecendo todo tipo de café.

Irresistível.

Café, tal como amor, para ser bom tem de ser quente e forte. E acontecer a qualquer momento, não é preciso planejar nem combinar…

E o café com a irmã/amiga, no meio da tarde? Existe coisa melhor nessa vida?

Às vezes, na impossibilidade de um encontro real, tomamos, cada uma, isoladamente seu café em casa, mas virtualmente reunidas pela internet, numa confraternização.

Dificilmente encontramos pessoas que não apreciam o café.

Uma bebida democrática, abrasileirada, cheirosa, agradável, faz um bem danado ao corpo e à mente. Mantém as amizades. Acende as paixões. E pacifica as famílias.

E aí, aceita um café?

Dia de Poesia – Álvaro de Campos – O que há em mim é sobretudo cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço —

Não disto nem daquilo,

Nem sequer de tudo ou de nada:

Cansaço assim mesmo, ele mesmo,

Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,

As paixões violentas por coisa nenhuma,

Os amores intensos por o suposto em alguém,

Essas coisas todas —

Essas e o que falta nelas eternamente —;

Tudo isso faz um cansaço,

Este cansaço,

Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,

Há sem dúvida quem deseje o impossível,

Há sem dúvida quem não queira nada —

Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:

Porque eu amo infinitamente o finito,

Porque eu desejo impossivelmente o possível,

Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,

Ou até se não puder ser…

E o resultado?

Para eles a vida vivida ou sonhada,

Para eles o sonho sonhado ou vivido,

Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto…

Para mim só um grande, um profundo,

E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,

Um supremíssimo cansaço,

Íssimo, íssimo, íssimo,

Cansaço…

Dia de Poesia – Florbela Espanca – Os meus versos

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Rasga esses versos que eu te fiz, Amor!
Deita-os ao nada, ao pó ao esquecimento,
Que a cinza os cubra, que os arraste o vento,
Que a tempestade os leve aonde for!

Rasga-os na mente, se os souberes de cor,
Que volte ao nada o nada dum momento.
Julguei-me grande pelo sentimento,
E pelo orgulho ainda sou maior!…

Tanto verso já disse o que eu sonhei!
Tantos penaram já o que eu penei!
Asas que passam, todo o mundo as sente…

Rasga os meus versos… Pobre endoidecida!
Como se um grande amor cá nesta vida
Não fosse o mesmo amor de toda a gente!…

Mulher & paixão

 

“O amor, que não é mais do que um episódio na vida dos homens, é a história inteira da vida das mulheres.”(Madame de Staël)

 

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E isso faz tão diferentes homens e mulheres – o amor, para os homens, ocupa apenas e tão-somente o lugar do amor na vida deles. A mulher, que em geral confunde amor com paixão e mistura tudo com dependência emocional e afetiva, deixa que esse sentimento aniquilador ocupe todos os espaços de sua vida – e de seu ser.

Por isso a mulher quando apaixonada – em geral – não raciocina, não enxerga, não pensa, não vive – apenas é uma apaixonada.

E a consequência pode ser terrível – se o relacionamento acaba, para ela nada sobra, porque ela não era mais nada além da paixão, dependendo da existência e da presença daquele homem até para respirar. E a crise a enfrentar pode ter efeitos devastadores na personalidade dela.

Algumas se contentam em chorar desbragadamente por semanas a fio, emagrecer – ou engordar, às vezes – perder o emprego, e outros efeitos negativos na própria vida.

Outras, mais passionais ainda, passam a tentar destruir o homem – pensam que porque estão destruídas ele não tem direito a sobreviver ao fim do relacionamento.

Vemos, então, aqueles atos tresloucados, inacreditáveis que sejam praticados por uma mulher tão doce, tão equilibrada, sempre tão calma, que era tão dedicada e tão… apaixonada por aquele homem.

Os atos vão desde telefonemas desesperados a qualquer momento do dia ou da noite – o coitado não tem direito à privacidade, ao trabalho, nada – e na era do celular isso é muito mais cruel, até terror explícito – segui-lo ou à nova namorada, dar “fechadas” no trânsito, simular tentativas de suicídio…

E eu pergunto: por que, geralmente, as mulheres reagem assim? Não têm amor próprio? Não se amam o suficiente para ficar sozinhas? Na hora do rompimento, ainda frente a frente, que se argumente, que se implore, mas depois de posto o ponto final na relação, por que rastejar? Deixemos isso para os compositores dor-de-cotovelo, Chico Buarque, Maysa, Jacques Brel & outros… fica até bonito na arte: na música, no teatro… mas na vida real é ridículo, desgastante e indigno.

Quem não viu o ridículo dessa situação, por exemplo, dentre outros no filme Atração Fatal, em que a mulher não aceita o não do ex-affaire, e passa a praticar atos verdadeiramente insanos, atormentado o próprio e sua esposa.

O fim do relacionamento, por mais doído que possa ser, tem que ser vivido com dignidade.

Em casa, sozinha, pode chorar, descabelar, tomar garrafas de vodka ouvindo “Ne me quittes pas”, “Tatuagem”, “Atrás da porta”, e outras músicas do gênero, mas, em público, levantar a cabeça, armar um sorriso e seguir em frente.

Dignidade antes de tudo!

Diálogo -repetindo o post de 24/02/2019, para responder à mesma pergunta:

– Então me conta: você agora é blogueira? Como foi isso?

 – Sim. Um dia eu me vi blogueira.

– E sobre o que é seu blog?

– Eu escrevo.

– Escreve o que?

– Textos, poesias…

– Sobre o que?

– Sobre tudo e sobre nada. Sobre amar e desamar. Sobre sofrer e ser feliz. Sobre partir e chegar. Sobre não ir ou ficar. Sobre a paixão e o querer.

– Mas, alguém lê isso?

– Não sei. Eu escrevo. É minha parte. Ler é a parte do leitor, não de quem escreve.

– Perda de tempo, escrever sem saber se alguém vai ler…

– Psiu… Escute…

– O que?

– Esse pássaro cantando nessa árvore aí na frente.

– O que tem? Ele canta o dia inteiro.

– Eu sei. Eu o ouço. Olhe ali, no canto…

– O que tem no canto? Não vejo nada…

– Como não, e aquelas flores que se abriram esta manhã, ontem nada havia ali…

– São flores do mato, apareceram do nada… estão aí para florir…

– E aquela grande árvore ali na frente, você a vê?

– Claro, só cego não a vê. O que tem?

– Veja a imensa sombra que ela faz.

– E daí?

– Daí que meus versos e meus textos são como o canto dos pássaros, o perfume e a beleza das flores, a sombra das árvores.

– Não entendi.

– Os pássaros cantam porque sua missão é cantar. Espalhar no vento a doçura de seu canto e assim tocar o coração das pessoas. Enquanto às flores cabe perfumar o ar e enfeitar a natureza. E as árvores fazem sombra no chão a quem quiser aproveitar. A ninguém em particular. 

– E?

– E assim eu sigo escrevendo e jogando meus poemas ao ar. A ninguém e a todos. A quem estiver solitário, a quem estiver sofrendo, a quem quiser se alegrar. Quem tiver a alma doendo do desamor. Quem estiver com o coração vazio de paixão. Quem estiver machucado de solidão.

A poesia é o dom de abraçar o outro mesmo à distância. De dizer: eu entendo o que você está passando. Ler nos leva a um mundo apartado, tornando mais leve o peso de nossa caminhada. Um pássaro canta porque seu peito estoura se guardar para si o canto que traz. Não se preocupa com quem vai ouvir ou se será ouvido. Apenas canta e assim cumpre sua divina missão. As flores enfeitam, sem saber se alguém notará sua beleza ou sentirá seu perfume, enquanto as árvores fazem sombras para todos os caminhantes que precisam de um descanso. Não dirigem seu dom a alguém definido nem esperam recompensas. Assim eu escrevo. Deixo meus escritos a quem quiser ler. Um desafio ao pensamento, um bálsamo ao sofrimento, uma companhia para um momento solitário. Apenas isso.

– Entendi. Mas preciso pensar sobre o assunto.

– Pense, medite. Leve um livro para ler à sombra daquela árvore, e leia enquanto ouve o canto dos pássaros, sente o perfume das flores e descansa os olhos no colorido que elas oferecem… e então entenderá…