Doce lembrança

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Quando a ausência se materializa

em forma de profundo silêncio,

e a indiferença ocupa todos os espaços,

finalmente você entende.

Entende que paixão foi a fumaça

que fez de conta que seria amor, e

que um vento leve apagou e espalhou

a chama vinda de outra presença…

O mundo tão rico, tão colorido

agora se apequena em tons cinzentos

e nada mais adianta nem vale a pena.

Da intensa descrença inicial

nasce a habitual tristeza.

E tudo o que não cabe mais na alma

jorra pelos olhos em lágrimas de sal:

A dor, a angústia, o vazio, todos crescem

e tomam conta do seu ser, da sua vida.

E, a cada lágrima que rola em seu rosto,

uma cicatriz de lembrança surge no coração;

até o dia em que mesmo essa dor,

tão doída, sofrida e esmagadora,

se torne, ela mesma, em sua existência,

mais uma doce recordação…

 

Velhos carnavais

Mas é carnaval, não me diga mais quem é você
Amanhã tudo volta ao normal
Deixa a festa acabar, deixa o barco correr, deixa o dia raiar
Que hoje eu sou da maneira que você me quer
O que você pedir eu lhe dou
Seja você quem for, seja o que Deus quiser (Chico Buarque)

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Como eram bonitas as músicas que surgiam na época do carnaval, ou relativas ao carnaval, como essa “Noite dos Mascarados” da qual tirei as frases acima…

Não, não é saudosismo besta, coisa de velho, não… é constatação mesmo, pura e simples. Por mais incrível que possa parecer, um dia, há muito tempo, no milênio passado, já gostei de bailes de carnaval.

Os mais velhos realmente sentem saudade dos antigos carnavais, e vocês sabem por que os mais novos não o sentem? porque não conheceram aqueles carnavais…

Não existia o slogan “USE CAMISINHA”. Não era preciso, carnaval não era pornografia explícita nem orgia ou bacanal, ao menos para a esmagadora maioria da sociedade.

Ninguém falava o irritante “BEBA COM MODERAÇÃO”. Cada um bebia o quanto queria e ninguém ficava regulando o copo alheio.

E o que se vê, hoje, é bandalheira, inúmeras gravidezes indesejáveis que se seguem ao carnaval, diversos atendimentos de coma alcóolico ou overdose, não obstante essas besteira desses slogam idiotas.

Havia os bailes – grandes bandas, com muitos metais, som espetacular. Tocavam as marchas-rancho, marchinhas carnavalescas, músicas até mesmo de letras maliciosas, que hoje seriam conversa de crianças de maternal.

E todos dançavam – surpreendentemente vestidos – não era preciso ficar nu por ser carnaval, não era açougue bom onde toda carne fica à mostra. Globelesma? Nem pensar…

Havia o desfile de rua – as escolas de samba, sem tanta ostentação, exibição corporal, nada disso – e era um acessório do carnaval, porque o principal não era ir ver alguém passar – carnaval era feito para todos dançarem – no salão, na quadra, na praça, onde uma banda se dispusesse a tocar o povo dançava.

E aí está a grande diferença: não era aula de aeróbica, onde dois ou três macacos e/ou macacas ficam em um palco fazendo gestos para o povo lá do chão imitar, macaquitos que são.

Nos salões havia concurso de fantasia – luxo e originalidade. Luxo era sempre igual, parecia que só trocavam as cores, não tinha graça, mas originalidade era notável – todos se perguntavam como podia alguém ter tanta imaginação para exibir aqueles trajes, realmente originais. O prêmio nem era lá essas coisa, às vezes apenas o troféu, taça comprada em lojas populares. Mas era tudo muito divertido. Muita serpentina cortando o salão, muito confete fazendo chuvas coloridas (confete… pedacinhos coloridos de saudade… como dizia uma antiga marchinha) e lança-perfume, que era permitido, antes de se viver nesse pesadelo de drogas pesadas acuando a juventude.

E na quarta-feira de cinzas, logo cedo, todos na missa para receber as cinzas… fazia parte do carnaval. Missa, gente, missa para encerrar o carnaval! (não considerávamos que era o início do período da quaresma, mas sim o encerramento do carnaval que se fora).

Inevitável a nostalgia nesta época, em que nada lembra que é carnaval.

Baile no salão? nem pensar – é só briga e violência. E não tem música de carnaval – põem uma bandinha de rock de esquina para tocar axé e funk e pensam que isso é baile de carnaval…

Então constato que o carnaval morreu. E me permito, sem me sentir tão velha, sentir falta de um verdadeiro baile de carnaval, para ir e dançar a noite toda, e, pasmem – QUATRO NOITES SEGUIDAS MAIS UMA NA SEMANA ANTERIOR (que era o chamado Grito de Carnaval), sem presenciar a porcariada que hoje se vê…

Não sei se passei eu ou passou o tempo dos carnavais…

Tudo está tão diferente que é difícil até mesmo chamar de carnaval essa confusão que se vê.

Mas o carnaval existe. E pessoas que adoram esse tempo. Como diz minha irmã, “cada um com seu cada qual”.

Para que não digam que só falo mal dessa baderna, trago aqui um texto do – para mim insuperável – grande Poetinha:

Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais brincando feliz
E nos corações
Saudades e cinzas foi o que restou

Pelas ruas o que se vê
É uma gente que nem se vê
Que nem se sorri
Se beija e se abraça
E sai caminhando
Dançando e cantando cantigas de amor

E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade

A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir
Voltou a esperança
É o povo que dança
Contente da vida, feliz a cantar
Porque são tantas coisas azuis
E há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar de que a gente nem sabe

Quem me dera viver pra ver
E brincar outros carnavais
Com a beleza dos velhos carnavais
Que marchas tão lindas
E o povo cantando seu canto de paz
Seu canto de paz

(Marcha da Quarta-feira de Cinzas) 

 

 

Carnaval, de novo

Sou – assumidamente – um bicho do mato. Embora seja essencialmente urbana e não seja tímida, não tenha dificuldade para falar em público, já estive em palcos por inúmeras vezes. Sem nenhum problema.

Talvez eu seja um bicho do mato de outra espécie, então. Pode ser.

Acho que me tornei assim por tédio. Os seres humanos, na sua grande maioria, me irritam. Não despertam minha atenção. Em geral têm uma conversa idiota e fútil. Não interpretam silêncios. Têm necessidade de movimento e barulho.

Eu sou mais contemplativa – detesto bagunça, movimento e qualquer barulho. Troco tudo por ouvir uma música – MÚSICA – e não funk, axé e outros ruídos populares, em um local de penumbra. Ou ler um bom livro – LIVRO – nem auto ajuda nem autor da moda.

Aquelas horríveis festinhas de confraternização de fim de ano me apavoram. O clima de Natal e Réveillon me deixam transtornada. Gosto de ficar sozinha nessas datas, sem ter de fingir uma alegria que não existe.

E, pior que tudo, é enfrentar carnaval. Pelos cabelos da Rapunzel!!!! Que coisa mais idiota que é esse tal de carnaval.

Um terço da população gasta o que não tem nem para pôr comida em casa, para “aproveitar” o carnaval. Desde comprar ingressos – CARÍSSIMOS – para ir ver um bando de gente se sacudindo na rua, tudo se repetindo infinitamente, ano após ano, com uma insuportável música de fundo – aqueles horrorosos sambas-enredos – tornando tudo uma massa amorfa e desinteressante.

Outros gastam para estarem nesse meio da rua e se sacudir, procurando seu momento de glória. Exibem-se em brilhos falsos, plumas e paetês, quando se sentem reis, rainhas e nobres. Depois voltam, como trapos usados, para suas tristes enxergas, onde passarão as outras 364 noites do ano lutando para sobreviver.

Outro terço da população se divide em enfrentar infindáveis filas – para descer a serra rumo a alguma praia, para abastecer o carro, para usar o banheiro público, para comprar alimentos – e acha que vale a pena “viajar no carnaval” e naqueles que viajam para aproveitar o carnaval, em lugares onde multidões se acotovelam nas ruas, suando, fedendo, se ralando e se roçando, fazendo de conta que a maior alegria da vida é pular na rua, em ridículos movimentos, até a exaustão física.

E sobra o último terço da população – que se divide entre aqueles que ignoram o carnaval, tocam sua vida normalmente, e, por ser feriado, aproveitam para ficar em casa, ler, descansar, convivendo com a família e, finalmente, o último grupo é dos espertos – aqueles que lucram – e muito – com a insanidade geral chamada carnaval – hospedagem, abadás, trajes, bebidas, drogas ilícitas etc.

Resumindo – eu detesto carnaval. E tudo que a ele se relaciona – músicas, multidões, alegria fingida, bebedeiras, brigas, assédios. Por isso fico longe. O mais que posso e consigo. Minha vida de bicho do mato é mais rica e divertida do que de pessoas que necessitam estar no meio de bandos para se sentirem vivas.

De lobos e hienas por Flávio Dutra

Para distrair um pouco, porque a semana foi pesada e não quer acabar, texto de Flávio Dutra:

Cansa este negócio de escrever sobre coisas ditas sérias. Por isso, decidi voltar às futilidades, para fazer um importante alerta: cuidado, muito cuidado, atrás de um lobo sempre vem uma hiena.

 

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A advertência nem é minha, mas do meu bom amigo LFA depois de ler a crônica Lobos em Ação, que cometi no ano passado e Coletiva se atreveu a publicar.  Tenho boas razões para suspeitar que o próprio LFA seja um lobo disfarçado, daqueles que atacam em eventos musicais. Convém lembrar que os lobos são aquelas criaturas que, na busca de suas conquistas amorosas, atuam em locais e horários diferenciados, cercando suas presas com sutileza e determinação. Distinguem-se dos comuns mortais pelo gosto ao inusitado, pelo enfrentamento das adversidades, pela ousadia na ação e pela técnica refinada na abordagem. O maior risco que as mulheres correm com essa espécie é de terem suas expectativas atendidas, porque o verdadeiro lobo valoriza suas conquistas e quer fazê-las felizes. 

Já as hienas são lobos fracassados. Elas bem que gostariam de ascender à condição maior, mas lhes falta finesse e, porque são hienas, ficam com as sobras. Alguns, de tanto viverem à sombra e no rastro dos lobos, acabam aprendendo e ocasionalmente podem se transformar em lobos juniores, mas jamais chegam a seniors e muito menos a masters. 

A diferença entre as duas espécies não está na condição social ou em qualquer outro tipo de segmentação, mas na atitude. O lobo prima pela finura, a hiena é sinistra; o lobo é pacencioso, a hiena é afoita; o lobo é seletivo, a hiena está aí para o que der e vier. Mas não é justo afirmar que a hiena só tem defeitos. É ainda o LFA quem observa que, embora cheguem depois, nem por isso as hienas têm uma tática menos ofensiva e letal. Podem parecer desengonçadas, mas são resistentes, capazes de perseguir suas presas por muito tempo sem esmorecer. 

É o caso da Hiena Eleitoral, que só participa de caminhadas de partidos nanicos, mas suporta carregar bandeiras com mastros enormes sem jamais perder o alvo de vista. SCA, analista de sistemas, se encaixa neste perfil. A preferência pelos partidos menores e mais radicais se explica: ele entende que grupos reduzidos já estabelecem uma seleção natural para escolher a presa que vai ser atacada e acredita, ainda, que o radicalismo das moças pode se transformar em intensidade na hora do vamos ver.

VJB, que se apresenta como bacharel em Direito, mas na verdade atua como despachante, é outra hiena típica. Ele até frequenta as baladas mais descoladas, mas é traído pelo medalhão no peito, pelo vistoso anel de formatura, pelas cantadas sem rodeios e o resultado final é zero. Por isso, a esticada é nos festerês mais populares, onde é conhecido como a Hiena dos Bailões. Entre músicas do Sidnei Magal, Wando, pagodeiros românticos e vanerões modernosos, ele se sente em casa. Aí ataca com fúria. È dois pra lá, dois pra cá e ele já começa a percorrer a anatomia da vítima. Quando sente reciprocidade, vai direto ao ponto:

– Tá na hora da gente partir.

A Hiena dos Bailões garante que a cada duas dessas abordagens uma pelo menos funciona, o que determina que ele trabalhe em dobro para não terminar a noite invicto. 

A hiena tem uma linguagem toda própria para se relacionar com suas vítimas, que podem ser honradas com expressões tipo “minha Deusa”, “Gatosa”, “minha Ídala” e outras meiguices do gênero. PNS, corretor imobiliário, prefere usar “minha Diva”, certo de que esse tratamento confere algum requinte a suas investidas. Ele é conhecido como “Hiena Bus Stop” porque seu habitat são as paradas de ônibus na região central, onde atua no final da tarde, à espera das moças que terminam seus turnos nas repartições públicas, bancos e comércio em geral. O elenco é numeroso e ele tem o cuidado de rejeitar as universitárias que se dirigem aos cursos noturnos porque sabe que vai ter poucas chances se a moça tiver que escolher entre o aprendizado e uma hienada. A hiena é hiena, mas pra boba não serve.

A existência de lobos e hienas, cada um com seu estilo e forma de atuação, mostra como a natureza é sábia. Há espaço para todas as espécies, a convivência pode ser harmoniosa e uma complementa o trabalho da outra, de forma a contentar vítimas de todos os perfis.

 

Nossas lutas

Il n’y a pas cinquante manières de combattre, il n’y en a qu’une, c’est d’être vainqueur. Ni la révolution ni la guerre ne consistent à se plaire à soi-même. (Andrè Malraux)

Quantas batalhas, quantas lutas, quantas guerras em nossas vidas. Incontáveis.

Diariamente travamos batalhas – desde a preguiça de se levantar e vontade de ficar mais um pouco no aconchego do leito, até a necessidade de largar tudo e ir dormir por uma questão de saúde.

Pensamos que somos livres, donos de nossas vontades. Mas sucumbimos, das necessidades mais simples, até às difíceis escolhas em fazermos nossos próprios caminhos.

As escolhas não são exatamente positivas – sempre quando escolhemos algo, deixamos de ter ou seguir outra coisa. Escolher, portanto, exige renúncia. Ou não seria escolha.

Se estamos seguindo em uma direção, e escolhemos derivar à direita, automaticamente renunciamos a continuar em linha reta ou seguir à esquerda.

Quando o beija-flor se aproxima de uma única flor para sugar seu néctar, está renunciando a todos os milhares de outras flores existentes.

Por isso a importância de se visar o objetivo final, e direcionar nossas forças para o bom combate. Porque não entramos na luta para perder nem para desistir. Guerreiro nunca desiste. Luta até o fim. E busca a vitória, não se luta para alcançar a derrota.

Quem entraria numa batalha para dela sair derrotado? Em todas as lutas sempre haverá o vencedor e o derrotado, isso é inevitável. E, se já é triste perder lutando, entrar para perder, ou ser derrotado sem lutar é a desonra total.

O importante é selecionar as batalhas, porque a finalidade é a vitória plena e total. Não dispersar energia e força em batalhas fúteis ou inúteis, mas poupá-las para as verdadeiras lutas da vida, independentemente do que se perderá quando se alcançar a vitória.

Porque, quando se escolhe uma meta a ser alcançada, e digna de batalhar por ela, renuncia-se a todas as outras.

É preciso escolher a montanha que queremos escalar, e desistir de escalar as outras. Mas com cuidado, porque é muito triste escalar a montanha errada.

E, não ter preguiça, não deixar o desânimo dominar, e, a cada dia, se dispor a disputar a luta daquele dia.

Dia de poesia – Roberto Ferrari – Viver teu amor

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Tu que circulas pelas minhas veias

Fazendo meu coração bater mais rápido

Tu que estás na minha pele

E que ferve de sedução ao me tocar.

 

Vivo

Por teu amor…

Pelo teu beijo intenso

Por tuas mãos me tocando

Pela força do teu abraço

Pela ânsia de te encontrar

Pelos teus caminhos que me conduzem a tua paixão

Pela leveza calma do teu silêncio

Pela ternura pura que brilha em teu olhar

 

Vivo…

Para correr como louco em teus pensamentos

Para me mesclar nas linhas do teu destino

E caminhar tranquilo, descobrindo ao teu lado

O significado do amor

 

Alegria louca

Realidade que compreende o sonho

De amar alguém que só vive por me amar…

Quando tu apareceste eu estranhei

Veio do nada, como quem nada quer.

 

E com seu jeito manso foi me conquistando…

Entre suas linhas, sentia as carícias

No meio dos teus sonhos fui me aprofundando.

 

As expressões eram mais fortes, mais ardentes, mas comoventes…

Te encontrei num olhar…

Um simples olhar sem palavras

Olhar calo, sereno, profundo que parou meu mundo…

Te amei sem palavras, sem olhares…

O coração disse adeus, um breve adeus.

 

Quem sabe um dia nós possamos dizer as palavras não ditas

Quem sabe um dia nós possamos sentir

O que nossos olhos nos disseram

Quem sabe um dia possamos ser um

Nesse jeito manso de ser

Nesta estranha forma de sentir

Somente nós dois

Mergulhados no mundo do nada mais…