Na quarentena

Continuamos em quarentena – 17º dia. Fazendo derrapar a esperança de tudo voltar ao normal na próxima semana, eis que vem a notícia que o período de isolamento foi estendido por mais quinze dias.

Embora dentro de casa tudo continue irritantemente igual, sei que o mundo não está tão calmo. A falta de trabalho leva à falta de dinheiro – especialmente os que ganham por dia – faxineiras, jardineiros, pipoqueiros, sorveteiros e tantos outros trabalhadores que são invisíveis para os olhos dos poderosos. Mas existem, são reais, têm filhos para alimentar, aluguel e outras contas para pagar. E, se trabalhavam duro e diariamente, antes da epidemia, é porque não se sujeitam a esmolas oficiais, não são parasitas. São trabalhadores.

Algo que não se entende: motoboys pegam coronavírus, mas se trabalharem no iFood estão imunes.

Cozinheiros e garçons pegam coronavírus, mas se trabalharem em sistema delivery, estão isentos.

As contas não batem. Os ângulos não fecham a figura geométrica que deveria ser a necessidade de isolamento social, por mais estapafúrdia que fosse. Mas não dá. Há algo de podre, de muito podre, por trás de tudo isso.

Tornaram o Presidente da República refém da situação – se ele baixa um decreto liberando geral e realmente há um agravamento na questão da saúde, ele será linchado. Mesmo que sua intenção seja apenas permitir aos trabalhadores que exerçam suas funções, que ganhem seu dinheiro, que salvem seus negócios.

Deixando para os governadores resolverem, como são todos animais sujos de oposição à faxina de corruptos e aproveitadores que vem sendo praticada pelo Governo Federal, temos a extensão do período de isolamento a cada semana que chegamos ao fim de um período pré-determinado.

Cientes da fome que estão plantando. Talvez seja a intenção – colher a falência do estado e jogar na conta do Presidente da República. Porque o povo é o que menos importa. Só serve para voto.

Enquanto esses personagens de A revolução dos bichos se fartam nas lagostas que o povo lhes financia, a vida fora da corte está a cada dia mais difícil.

Se havíamos recuperado nosso orgulho cívico, patriótico e estávamos começando a nos permitirmos voltar a sonhar com algum futuro factível, essa epidemia jogou tudo ralo abaixo.

Não sei quando nem como isso irá terminar, só sei que meu treinamento de lençol está a cada dia mais intenso – logo não me levantarei mais da cama…