São trinta dias de isolamento, em razão de um vírus desconhecido e de alto contágio que se alastrou pelo mundo conhecido.
Impossível não pensar em Garcia Marquez.
Impossível não buscar Camus, para reler A Peste.
Como também a necessidade de reler Daniel Defoe, em Um diário do ano da peste.
Tempos difíceis, muita miséria no horizonte, insegurança social e pessoal. E não há como escapar. Todos estamos passando por isso.
Famílias separadas, quem foi surpreendido distante não pode voltar – sem voos, sem viagens de ônibus intermunicipais, interestaduais… Cada um em sua casa – sorte dos que as têm, isolado, segregado, condenado, por vezes, à fome e privações, porque os empregos se foram junto com o confinamento.
E o jeito é aguentar. Com raiva, sem raiva; com conforto, sem conforto; com fome, sem fome…
Por outro lado, nuvens escuras nos trazem sobressaltos no campo da política. Também total insegurança.
Os ladrões da Pátria, acostumados com a mamata das patas no dinheiro público, desesperados por estarem há mais de um ano sem conseguir desviar verbas, conseguiram, com o coronavírus e o beneplácito da suprema corte, um caminho para continuarem suas práticas.
E o clima não é promissor. Não me surpreenderia se, em meio à turbulência trazida pela epidemia, ainda tenhamos de enfrentar uma revolução.
Já não bastam as tormentas da alma, que cada um traz dentro de si, sofrendo calado, muitas vezes em situações insustentáveis, mas que não há como colocar um ponto final, ainda temos ataques na profissão, na saúde, na estabilidade política…
Lembra-me uma frase atribuída a Churchill: “Se você está atravessando um inferno, continue caminhando”. Sim, um dia tudo passa. Mas só quem caminha por um inferno sabe o que é isso.
Estou assistindo a um documentário, na internet, sobre navios surpreendidos por tempestades violentas – Ships in a storm.
Ondas assustadoramente enormes. Mesmo eu, que amo o mar, tenho vocação de viver embarcada, reconheço que o mar pode se tornar um monstro.
E continuo assistindo. Grandes navios, pequenos barcos de pesca, todos continuam em frente.
Exatamente: em frente. Avante.
Mesmo que tenham mudado temporariamente a rota, não param. Nem podem fugir. Encaram o mar. Colocam a proa de frente para a tempestade. Ainda que altas – altíssimas ondas – cubram toda a estrutura. Mas entram de frente, encarando as ondas da tempestade. E continuam. Assim aprenderam com seus mestres e práticos. E assim fazem. E salvam seus barcos e tripulações.
Um pequeno barco, de vela única, tenta sair da tormenta. Mas é leve. E a marola o coloca de lado para a onda forte. Não resiste e emborca. As pessoas são atiradas longe enquanto o pequeno barco vira até a vela afundar. Isso assusta.
Nesse momento tormentoso e assustador que estamos passando, as lições e a experiência de quem nos precedeu devem ser valorizadas e observadas. Quem já atravessou um inferno sabe que é preciso continuar porque há uma porta de saída do outro lado e sabe onde ela fica.
Quem já conduziu um navio em forte tempestade, e não soçobrou, sabe que o único jeito é encarar, não fugir, e seguir. As ondas nos levantam, nos desequilibram, nos jogam para todos os lados, mas sairemos ilesos no final.
Está difícil, muito difícil, porque não sabemos que doença é essa. Se quem já sarou pode adoecer de novo. Se muitos ou todos morrerão. Se simplesmente o vírus tem prazo de validade e vai sumir da mesma forma que apareceu.
Como não sabemos se nosso país vai atravessar mais essa tentativa de derrubar o Presidente da República. Se balançaremos e continuaremos, como um grande navio, ou naufragaremos como um singelo barco a vela. Que não haja nenhum vergalhão a nossa espera.
A única coisa que podemos fazer, neste momento, é seguir em frente e encarar o que vem por aí…