Começo a escrever para postar neste blog. Gosto de silêncio absoluto ou boa música enquanto escrevo. Então coloco uma seleção de fados – um vídeo de show em Lisboa. Distraída, vou escrevendo, enquanto relembro fatos de um passado remoto, fatos recentemente ocorridos, vou repassando memórias… de repente, ouço um fado desconhecido. Paro de escrever e ouço, embevecida. Impossível não pensar no meu amigo poeta, que somente ontem soube que nos deixara. Largo meu texto inacabado, e posto, hoje, aqui, essa beleza. Um tributo a todos os poetas que se foram.
Hoje Morreu Um Poeta (Rui Manuel / Vital d’Assunção)
Silêncio
Hoje morreu um poeta
E a carne morreu esquecida
Como esquecida viveu
Silêncio
Hoje morreu um poeta
Que espalhou rimas de vida
Nos poemas que escreveu
Fez rimar terra com pão
Emigrante com fronteira
E rimou humilhação
Com repulsa e bebedeira
Fez um terço de poesia
Bem na ponta dos seus dedos
Rimou dor com alegria
E criança com brinquedos
Fez rimar ponte com rio
Pescador com tempestade
Rimou estiva com navio
Grilhetas com liberdade
Na inspiração maior
Que um verso pode conter
Rimou amor com amor
E ternura com mulher