Conversa com meu avô n° 12

Aqui estamos, de novo, meu avô, para mais uma de nossas conversas. Mas não me pergunte muito, porque não saberei responder. As coisas aqui estão ruins de uma forma que nem sei o que dizer ao senhor.

É verdade, vô, continuamos em isolamento social. Eu sei – e claro, todos os políticos sabem, que o desemprego, o número de falências, a pobreza, a fome serão quase invencíveis quando isso tudo acabar, mas nada podemos fazer.

Como assim, o Presidente da República não faz nada? Que isso, vô, até o senhor, tão lúcido, está entrando nessa dos comunas???????

Os sinistros do supremo tribunal federal tiraram das mãos do Presidente da República todas as ações que visam controlar o coronavírus. Ou seja, governadores e prefeitos mandam, fazem o que querem, superfaturam compras, enterram caixões vazios, mandam anotar covid 19 (nome oficial do bicho) em TODAS as certidões de óbito, para inflar os relatórios e assim conseguirem extorquir mais verbas da União. E o senhor diz que o Presidente que não age????

Só se ele mandar um jipe com um cabo e dois soldados para fecharem aquele bordel…

Exatamente, ele trocou o ministro da saúde. Quanto a isso, estávamos vendo que o ministro não estava muito à vontade para enfrentar essa crise da pandemia. Mas ele nomeou um cara que aparentemente tem condições de tocar o barco.

O ministro da justiça, que era aquele juiz de direito que todos admiravam, realmente não se saiu bem no cargo. Mais de um ano e nada foi feito. Ele apresentou um projeto de lei que foi desfigurado e completamente “aleijado” no congresso e ficou por isso mesmo. Parece que a autoridade dele como juiz não veio junto para o ministério.

Não, que isso, vô, perda nenhuma. Pense num tabuleiro de xadrez – só o rei não pode cair nem ser substituído. Todos devem dar a vida para protegê-lo até o fim da batalha. Ou da partida. Com o tabuleiro da política ocorre a mesma situação – nós elegemos o Presidente da República. Só ele não pode cair nem ser substituído. Todos os outros são peões. Uns fazem mais falta quando caem (a dama, o bispo, por exemplo), outros fazem um favor quando se vão.

Nos últimos 20 anos já tivemos perto de cem ministros. O país sobreviveu à demissão de todos.

E o imbróglio com o chefe da polícia aconteceu porque o sinistro que acha que é xerife queria um cara da confiança dele para diretor lá. Esquisito, não é mesmo? Quem governa o país (e os Estados e os municípios) atualmente é a justiça. Metem o nariz em tudo mas não entendem nada.

Impeachment? Não sei, vô. Tudo pode ocorrer nesta terra de ninguém chamada Brasil. Aqui tem muito cacique para pouco índio, todo mundo manda e ninguém obedece. Não há ordenamento jurídico fixo, eles vão mudando as leis, os entendimentos, a jurisprudência a cada caso, dependendo do interesse pessoal deles, dos familiares, dos sócios, dos amigos…

Rasguei meu diploma da faculdade e joguei fora, vô. E vou tacar fogo na minha biblioteca jurídica. Não servem para nada. Aqui só os amigos dos reis que mandam e têm direitos.

Concordo, vô, eu estudei muito, sempre fui muito dedicada aos estudos, sempre quis entender para saber. Mas tudo aquilo que o senhor sempre me viu estudar não tem mais serventia. Se eu fosse esposa de um sinistro do stf, daí seria diferente, porque só pegaria causas de lá (até hoje não explicaram como certas pessoas irrelevantes, joão-ninguém, ladrãozinho ordinário, têm foro perante essa corte. São jabuticabas, vô, sabe aquele tipo de coisa que só existe no Brasil?) Pois é…

Ah, sim, agora entendeu mais ou menos o que aconteceu nesses quinze ou vinte dias? Eu não sei, vô, onde está a verdade. Isso é algo que nunca saberemos, se precisa ficar em casa, se trabalhar mata, se o vírus foi feito em laboratório, se apenas um vírus sofreu repentinamente uma mutação terrível e está matando meio mundo… mas se a ordem é ficar em casa, estamos em casa. Manda quem pode, obedece quem tem juízo ou, é amigo do rei, aí faz o que quiser, vai a festas, não tem limite.

Simples assim.

No mais, tudo bem, vô. Vamos aguentando as pancadas e esperando que tudo melhore.