Conhecer o futuro. Saber o que há por vir. Em geral as pessoas tentam adivinhar, buscam modos de desvendar, através de videntes, leitores de areia, conchas, mãos, borra de café…
Mas a ninguém é dado saber o que o tempo e a vida nos reservam.
Vivemos às escuras, de olhos vendados com relação à nossa própria sorte.
Se pudéssemos saber tudo o nos espera, a vida seria bem sem graça. Nenhuma surpresa. Tudo no respectivo quadradinho. Já estaríamos preparados para as alegrias, as lágrimas, as dores, as perdas. Mas, por outro lado, não nos seria dado sonhar. Porque os sonhos preenchem exatamente o vazio do não saber o que será de nós.
Então sonhamos.
Crianças, sonhamos com brinquedos, brincadeiras, natais e casa de vó.
Adolescentes, sonhamos com boas notas, grandes amores, liberdade.
Jovens, sonhamos com a faculdade e com a vida adulta.
Sempre sonhamos um passo à frente do que vivemos.
E os sonhos, muitas vezes, nos ajudam a manter a sanidade, a vontade de continuar vivendo. Porque, de certa forma, sonhos e esperança, voltados para o futuro, são nosso sustento na caminhada até o encontro final.
Quem começaria um namoro, sabendo que logo sofrerá por essa paixão?
Quem se casaria, sabendo que o casamento não demoraria a naufragar?
Quem faria um curso universitário com a certeza de não seguir aquela carreira?
E tantas outras situações que nos surpreendem positiva ou negativamente seriam conhecidas antecipadamente. As boas surpresas não existiriam porque deixariam de ser surpresa. E para não conhecermos os fracassos, o quanto deixaríamos de viver… nunca conseguiríamos amadurecer. Porque umas pancadinhas de vez em quando nos ajudam a encarar a realidade.
Nunca sabemos se depois da chuva haverá um arco-íris. Daí a beleza de quanto o avistamos, sonhado mas inesperado.
Você sabe que o fogo queima porque um dia ali encostou a mão. Ou levou um choque ao mexer em fios de eletricidade e aprendeu com isso. Surtou com uma paixão ardente que gerou lágrimas e aprendeu a dosar os sentimentos.
Mas se você soubesse previamente tudo isso, para que passar por essas experiências?
Perderíamos nossa humanidade e nos tornaríamos robôs – previsíveis, programados, frios, sem emoções.
Prefiro viver nessa montanha-russa de imprevistos, risos e choros, angústias e alegrias, chegadas e despedidas, felicidade e saudade, a levar uma fria vida linear, com os acontecimentos se sucedendo dentro de uma programação estabelecida e conhecida.
Os aparentes imprevistos acontecem apenas porque estávamos na direção errada, esperando o que não era nosso, com excesso de expectativas equivocadas.
Já nos basta a certeza da morte, que nos persegue no dia a dia, mas mantendo a surpresa, pois nunca sabemos onde nem quando nem como.
Por desconhecermos o resultado, lutamos continuamente. E é gratificante conseguir depois de muito tentar, sem saber se alcançaremos ou não.
Mesmo quando fracassamos, nos sentimos bem porque tentamos, acreditamos – e sonhamos.
O sofrimento vem para que possamos valorizar as alegrias.
Vencer ou fracassar são as faces de uma mesma moeda. A dor do fracasso incentiva a perseverar até conhecer o júbilo e a vibração do vencer.
Futuro é o que vier. Devemos nos preparar para tudo. E sonhar, sonhar muito, sonhar sempre.
Isso é viver.