Floresce um relativismo moral e cultural, abrem-se as comportas da desordem e da ilicitude, expande-se o comércio de drogas e de armas. (Gaudêncio Torquato)
Cinquenta dias de confinamento. O mundo que conhecemos se desfazendo como fumaça no ar.
Esse isolamento está destruindo afetos, famílias, empregos, empresas. E os aloprados dos políticos com cara de paisagem, aproveitando para roubar dinheiro público e rir do povo. Somos animais enjaulados. Feras desdentadas, sem garras.
Até quando suportaremos essa situação, que nem mesmo temos certeza ser necessária? Uns dizem que é preciso “achatar” a curva para não causar colapso no sistema hospitalar (que é um caos no Brasil desde 1990).
Outros dizem que não há ocupação das vagas hospitalares disponíveis.
Ainda há aqueles que sustentam que a epidemia somente será controlada quando 85% da população estiver contaminada, portanto é necessário que haja exposição controlada ao vírus para a doença acabar – e com o isolamento estamos protelando o pico. Ou seja, se ficarmos confinados até dezembro de 2020, teremos o pico da epidemia em 2021…
Atiram em todas as direções e a população não consegue acreditar em mais ninguém. Mas com as contas vencendo, a pobreza se aproximando a passos largos, todos estão tendo uma certeza: esse isolamento será a desgraça do país.
Quando um prefeito, em um lapso de lucidez, resolve revogar o confinamento e começar a volta organizada das atividades, ou o governador cai de pau ou alguma dupla promotor-juiz, que não foi eleita para nada, resolve administrar a cidade e tudo volta a ser proibido.
Mas nem o governador, nem o promotor e nem o juiz estão preocupados com as famílias que estão completamente sem fonte de renda, depois de quase dois meses de prisão domiciliar.
Tudo está represado. Em algum momento haverá de estourar. Não sabemos qual o ponto mais vulnerável. Mas tudo levado a um extremo arrebenta.
Há um ponto de resistência do qual nada passa. A física explica. Ali tem de haver uma mudança de força ou de rumo, porque senão estoura. E estamos chegando nesse ponto com os políticos brasileiros.
O povo é usado de maneira desavergonhada para servir de fonte de ganhos. Essa é a verdade. Poucos – quase nenhum – está preocupado com o bem-estar, a educação, a segurança ou a saúde da população.
Somos vistos como número potencial de votos. Apenas isso.
Contando com a ignorância reinante na população, fruto de 34 anos de desmantelamento do sistema de ensino no país, sabem como é fácil manipular a vontade do povo. Na base do “panem et circenses”.
Mas agora o circo fechou e o pão está acabando. A massa humana perdeu a inocência, em razão das manifestações dos últimos anos, da expansão das redes sociais, da necessidade natural de sair do círculo que está pegando fogo.
A decadência moral largamente exibida e incentivada pela classe artística e meios de comunicação tradicional levaram a uma procura pelas redes sociais, o que, se bem usada, leva um pouco de luz a essa população antes sujeita tão somente a duas ou três emissoras de televisão como seu guru, conselheiro e oráculo.
Vivenciamos extraordinário momento histórico, do qual resultarão profundas mudanças. Estamos passando por uma mudança de era. Daqui algum tempo os registros históricos apontarão a Idade Contemporânea como sendo o período compreendido entre a Revolução Francesa (1789) e pandemia da peste do covid (2020).
Porque não há dúvida que tudo o que era e que existia antes desse lapso de confinamento mundial não sobreviverá à pandemia. Mudanças ocorrerão.
Não as besteiras dos filósofos de internet, que “sairemos melhores” dessa crise. Porque nenhuma crise tem esse poder. E ficar confinado em casa navegando o dia todo nas redes sociais ou dormindo não vai melhorar ninguém.
Melhoramos na medida que conhecemos nossos semelhantes, que nos preocupamos com os rumos da humanidade, que estendemos a mão a quem precisa, que nos prestamos a trabalhos voluntários para ajudar necessitados, e vamos sendo lapidados pelas pedradas que infelizmente levamos pela vida afora, e nos depuramos com a caridade que praticamos e crescemos com o amor que sentimos, espalhamos e recebemos.
Será inevitável uma mudança depois dessa crise. Porque estamos presenciando a ganância dos homens pelo dinheiro e pelo poder, ainda que a custa da morte de milhares de pessoas.
Estamos atravessando um período de guerra, ainda que nenhum tiro tenha sido disparado, nenhum míssil tenha atingido alvos militares.
A população civil sendo fortemente prejudicada – e desconfiada que tudo isso foi planejado. Se comprovada essa tese, imperdoável a maldade com que agiram para provocar esse caos mundial.
A degradação moral, familiar e social, o uso – e a defesa desse uso – maciço de drogas ilícitas, criando verdadeiras comunidades de dependentes, totalmente marginalizados, e o desmando decorrente de excesso de judicialização da vida e politização da justiça, formam o caldo propício para um estouro de comportas.
O ponto de mutação traduzido no I Ching está chegando. Só não sabemos como ficará a humanidade depois de passar por esse processo. Só o futuro dirá…