
Do quadro de uma janela assisto à passagem da vida
Pela calçada casais abraçados se encolhem sob os guardachuvas
Os automóveis se alinham em filas em sentidos opostos
E a noite, serenamente, cobre tudo com seu manto de ausência de luz
Agora já não há gritos de vendedores nem buzinas nervosas ou sirenes
As pessoas andam mais vagarosamente, saboreando o caminhar
É minha hora preferida. Há uma ordem chegando onde reinou a confusão diurna
Como o dia, assim é minha vida – depois das dúvidas da infância e incertezas da juventude
Veio o meio termo da maturidade. E agora, na velhice, só quero a ordem.
As noites silenciosas são o bálsamo da alma e o descanso do corpo, ambos exaustos
Mesmo que pensamentos confusos impeçam o sono reparador
Os ventos da madrugada desalinham a organização da noite
e despertam a vontade de sair na noite e voltar a viver intensamente
mas a ordem logo volta e reina o vazio da natureza em repouso.
Embriago-me do escuro e do silêncio nas longas horas de solidão
E me recordo de tantas pessoas, tantas alegrias, tantas perdas pela vida
Fecho os olhos, inundada de tantas lembranças fugidias
E mergulho, fragilizada, no mar do meu próprio caos.
Perfeito!!! Parabéns pelo excelente texto!!!
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