E chega, de surpresa, uma pergunta, que é um pedido de ajuda: “como faço para esquecer quem me deixou, para não sofrer?”
Eu, então, pergunto a mim mesma: “quem sou eu para responder, para ensinar a alguém aquilo que não sei nem para mim?”
Como se adivinhasse minha indagação, responde-me: “você é poeta; entende das coisas do amor e da paixão…”
Ah, quem me dera saber e poder ajudar. Quem me dera soubesse eu lidar igualmente com o amor e com o desamor. Com a paixão e com a indiferença. Com a alegria e com a tristeza. Com a chegada e a partida. O início e o final. O encontro e o desencontro. O achegamento e a separação.
Mas não sei. Talvez devesse ter aprendido com tantas decepções. Mas não há como aprender.
Sou feita de amor e paixão. Eternamente carente.
Sofro com a mesma intensidade com que me apaixono.
Meu delicado coração sangra continuamente com a indiferença, a desatenção, o desamor. Coleciono mágoas vida afora.
Aprendi a alegria do amor. A magia do reencontro. A beleza da entrega plena.
Mas não sei lidar com a separação.
O que poderia dizer? Como aconselhar quem sofre? Dizer “não sofra! Não chore!”????
Eu digo o contrário: “Sofra. Sofra muito. Sofra tudo o que tiver de sofrer. Chore. Chore muito. Chore tudo o que tiver de chorar.”
Toda separação é traumática. E o fim de uma relação de paixão é devastador para a alma humana. Porque, quando um se vai, o outro ainda está apaixonado. E não é possível amar pelos dois, sem reciprocidade. É a mão estendida que não encontra outra mão para segurar. E o apaixonado é um dependente do amor e da atenção do outro. Como, de repente, ver tudo acabado e fazer de conta que está tudo bem?
Podemos, em público e para consumo externo, colocar um lindo sorriso no rosto maquiado. Mas por dentro as lágrimas queimam, a dor é física.
A separação, em vida, desencadeia um luto – como se fosse uma morte. E a única forma de se livrar do luto é exatamente vivenciando integralmente esse luto. E sofrer. E chorar. E querer morrer.
Não desistir. Mas deixar toda a dor ter seu curso em nosso ser.
Quando parar de sangrar, começará a cicatrizar. Mas, quando o sangramento estancará? Exatamente quando tiver sangrado inteiramente. Quando o sangue acabar. Não tiver nada mais para escorrer. Então começa o doloroso processo de cicatrização. Dói, arde, incomoda, e faz chorar. Bastante.
Porque a saudade está ali, como milhares de alfinetes, espetando, fazendo lembrar da mágoa que foi a causa de tudo aquilo. E a saudade nos marca como um ferro em brasa na carne nova. É mais do que uma simples cicatriz o que fica onde sangrou. A saudade é uma chaga viva. Nunca irá desaparecer. E toda vez que a saudade doer, recordaremos, em lágrimas, a paixão vivida, o amor perdido.
Meu coração é uma colcha de retalhos de mágoas cicatrizadas e saudades vivas.
Eu não sei, realmente, como ajudar ninguém nessa hora.
Posso, no máximo, chorar junto…